O boi de mamão é uma expressiva manifestação folclórica típica do litoral do estado de Santa Catarina, Brasil. Ocorre também em algumas cidades do interior de Santa Catarina e litoral do Paraná, até onde se tem notícia, trazido até lá por imigrantes catarinenses. Trata-se de um auto em tom cômico, mas com um elemento central dramático: a morte e a ressurreição do boi, apresentando elementos comuns com o bumba-meu-boi nordestino. Reza a lenda que há muito tempo, havia um fazendeiro muito rico que tinha um boi de estimação e que era de uma raça muito cara. Pai Chico, um escravo da fazenda, tinha uma mulher chamada Catarina, que estava grávida. Certo dia, ela teve vontade de comer língua de boi. Mas, o único boi que havia na fazenda era o boi de raça do patrão. Mesmo assim, Pai Chico resolveu se arriscar. Por isso, arrancou a língua do animal. Porém, o bicho acabou morrendo. O patrão saiu à procura de quem fez tamanha barbaridade com seu animal. Pai Chico, ao falar que a esposa estava grávida, foi perdoado. Então, Catarina costurou uma língua de pano e colocou no cadáver do boi morto. Pajés e curandeiros foram convocados para reanimar o animal, que naquele mesmo instante, ressuscitou e virou um animal de pano. Foi feita então uma enorme festa para comemorar o milagre.
Origens[]
Exemplo de um boneco utilizado como o boi de mamão. Não há consenso entre os pesquisadores sobre qual a origem exata do boi-de-mamão, provavelmente existindo múltiplas origens e influências nessa tradição.
Pesquisadores como o folclorista Doralécio Soares, citando diversos argumentos (como registros históricos oficiais e semelhanças entre o enredo, cantorias, musicalidade e teatralidade) acreditam que o boi-de-mamão nasceu em Santa Catarina, mas originado do bumba-meu-boi nordestino, trazido provavelmente por imigrantes vindos da Região Nordeste. De acordo com o mesmo pesquisador, o primeiro registro oficial no Brasil citando o " boi-de-mamão" data de 1870, registrado pelo catarinense José Boiteux em seu livro de 1930 "Águas Passadas", o qual afirma, no mesmo registro, que a brincadeira também era chamada de "bumba-meu-boi".
Porém, muitos praticantes do boi-de-mamão em Santa Catarina acreditam que a tradição teve origem na cultura açoriana, supostamente trazida por imigrantes das Ilhas dos Açores que colonizaram Santa Catarina no século XVIII (a partir da década de 1740), apesar de não haver registros históricos que comprovem a existência de brincadeiras semelhantes ao "boi-de-mamão" nestas ilhas portuguesas. Por outro lado, não há dúvidas que a cultura típica dos descendentes de açorianos em Santa Catarina influenciou no desenvolvimento do boi-de-mamão, como por exemplo na estética e musicalidade. Há ainda, como o pesquisador Nereu do Vale Pereira, quem afirme que a cultura do boi-de-mamão iniciou na Ilha de Santa Catarina através dos espanhóis em sua breve ocupação em 1777 da Ilha de Santa Catarina. .
Fato é que brincadeiras populares, das quais o boi (vivo ou de fantasia) é o personagem principal são tradicionais em toda a Península Ibérica e datam muito antes da Idade Moderna, o que deve ter contribuído ou para criação do boi-de-mamão por imigrantes europeus em Santa Catarina a partir do século XVIII ou pelo menos na assimilação do "bumba-meu-boi" nordestino pelos imigrantes ibéricos e seus descendentes no Estado.
Além de denominação antiga de "bumba-meu-boi", registrada no século XIX por José Boiteux, o "boi-de-mamão", denominação mais popular da brincandeira, também fora chamado de "boi-de-pano", "boi falso", "boi-mamão", entre outras
Fontes[]
https://www.sescpr.com.br/wp-content/uploads/2019/03/Colet%C3%A2nea-Entre-Lendas_Vers%C3%A3o-WEB.pdf