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Cachorra Pelada

Cachorra Pelada por Douglas Viana

Cachorra Pelada é uma criatura do folclore brasileiro presente em Caraúbas de Piauí. Dizem que ali nas regiões rurais de Caraúbas, Piauí, há muito tempo se conta a história de uma mulher que, à meia-noite das noites de quinta para sexta, se transforma em uma cachorra pelada e sai correndo pelas veredas do lugar assustando as pessoas. Raimundinho há muito já ouvia aquelas histórias, mas ele não era muito o tipo que acreditava naquilo que ele considerava lorotas do povo. Afinal, não seria muito ilógico acreditar que poderia uma mulher virar uma cachorra velha pelada?

Naquela noite, justo uma quinta-feira, havia permanecido em um bar com os amigos tomando cachaça e jogando carteado com os amigos. Essa não lhe era uma rotina muito incomum. Gostava de ficar ali. Melhor que sozinho naquela casa abandonada, lembrando da mulher que havia fugido com um vizinho, por estar cansada daquela vida miserável. Ficava ali até tarde. Ao menos depois de tomar umas pingas podia cair na cama e dormir até o dia seguinte, quando recomeçaria tudo.

Vez por outra o povo falava na tal cachorra pelada que vivia correndo atrás das pessoas. Para ele, aquilo era besteira. Provavelmente era uma cachorra velha com Calazar que tomada pela doença corria atrás das pessoas. No fim da noite, pegou a estrada de chão no rumo de casa. A lua cheia brilhava no céu limpo de nuvens e com muitas estrelas. O caminho estreito era cercado de mato nas laterais. Já era perto da meia noite e o homem só pensava em dormir. No dia seguinte tinha que trabalhar cedinho.

Caminhando pelas veredas, de repente, ouviu um rosnado. De imediato, todos os pelos do seu corpo se ouriçaram. Às vezes, mesmo não acreditando numa coisa, a imaginação mexe com a coragem da gente. Seria a tal cachorra do cão? Claro que não, afinal ela não podia existir. Eram histórias que o povo inventava. O que seria afinal?

O medo fez o homem apressar o passo, mas ele ouvia sons como se tivesse um bicho caminhando por dentro do mato. Às vezes parecia estar sendo seguido. E o diabo dessa casa que não chegava nunca? Raimundinho nunca sentiu que sua casa fosse tão distante como naquele dia. Já estava acostumado com a caminhada e até achava perto, mas naquele dia era diferente. Quanto mais andava, mais longe ela parecia. A estrada parecia não ter fim.

De repente, quando a lua brilhava no topo do céu, um bicho salta na estrada em sua frente. Era uma criatura horrenda e furiosa. De fato, lembrava uma cachorra pelada, mas os dentes eram imensos e os olhos envermelhados brilhavam na escuridão. As unhas eram crescidas e mais pareciam garras enormes, e apesar de ser uma fera que se lhe mostrava, havia algo de humano naquela coisa.

O bicho se pôs no meio do caminho e Raimundinho percebeu que ela já se preparava pra pular pra riba dele. No salto da fera, Raimundinho, nessas velocidades que temos quando estamos com medo e depois não sabemos explicar, jogou-se ao chão, de modo que a fera passou por cima dele, caindo mais à frente.

A figura do cão já se preparava pra correr no seu encalço quando o homem amedrontado pôs-se a correr na direção de casa. Na correria, sentia a quentura do bafo da coisa, aos grunhidos e rosnados, em seu encalço. Quanto mais ele corria, mais certo lhe parecia que não conseguiria fugir daquela danada.

Quando Raimundinho chegou na porteira de casa, o bicho, contudo recuou. Olhou ele então pra cima e viu que o bicho tinha deixado ele em paz por causa por causa da imagem de Nossa Senhora das Graças que a esposa traíra havia fixado em cima do portal de entrada. “Ao menos pra isso aquela desgraça serviu. O bicho foi embora”.

No dia seguinte, cedo, contou aos amigos no bar todo o ocorrido. Foi então que um deles, rindo-se do ocorrido indagou: “e tu num disse que era invenção do povo?”. Raimundinho, constrangido com o deboche, ficou sem ter o que dizer. Ele nunca mais duvidou das histórias que o povo conta que acontecem em cima desse chão de Meu Deus e, desde então, nunca mais saiu de casa nas noites de quinta para sexta-feira.


TEXTO: JOSÉ GIL BARBOSA TERCEIRO

FONTE[]

QUEIROZ, Áurea. Lendas do Piauí. Teresina: Halley 2013.

https://causosassustadoresdopiaui.wordpress.com/2017/11/26/cachorra-pelada/

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