Encantado é, no sentido mais geral, qualquer coisa, animal ou pessoa que foi objeto de um encantamento ou sortilégio.
No Brasil e em Portugal, os encantados são, principalmente, os seres animados por forças mágicas ou sobrenaturais que supostamente habitam o céu, as selvas, as águas ou os lugares sagrados. Nesse sentido, a palavra é equivalente ao inglês fairy, que também se refere genericamente a entidades mágicas.
Nos candomblés de caboclo do Maranhão e Pará, segundo Reginaldo Prandi (A Dança dos Caboclos), os encantados são, mais precisamente, "personagens lendários que um dia teriam vivido na Terra mas que, por alguma razão, não conheceram a morte, tendo passado da vida terrena ao plano espiritual por meio de algum encantamento.
Essa tradição de encantamento estava e está presente na cultura ocidental (lembremo-nos das histórias de fadas, com tantos príncipes e princesas encantados), bem como na mitologia indígena. Os encantados são de muitas origens: índios, africanos, mestiços, portugueses, turcos, ciganos etc.
Lendas portuguesas de encantaria, como a história do rei português dom Sebastião, que desapareceu com sua caravela na batalha de Alcacequibir em 1578, em luta contra os mouros, e que os portugueses acreditavam que um dia voltaria, estão vivas nessa religião. A luta dos cristãos contra os mouros, tão cara ao imaginário português, se transformou em mitologia religiosa, mas os turcos da encantaria são agora aliados, não inimigos. Elementos da encantaria amazônica, como as histórias de botos que viram gente e vice-versa; lendas de pássaros fantásticos e peixes miraculosos, tudo isso foi compondo, ao longo do tempo, a religião que se convencionou chamar encantaria ou encantaria do tambor-de-mina, no Maranhão (Prandi e Souza, 2001), e sua vertente paraense (Leacock e Leacock, 1975)".
Caruanas[]
Os índios que habitaram a grande Ilha de Marajó entre os anos 400 e 1400 D.C. possuíam uma vasta cultura e deixaram para as gerações que os sucederam uma riqueza cultural inestimável. Citamos aqui a cultura da Cerâmica Marajoara, famosa mundialmente por seus traços e policromia inigualável, e a cultura dos Caruanas do Marajó, energias que os índios acreditavam que viviam em 7 cidades encantadas no fundo das águas e vinham através dos pajés curar os viventes na Terra utilizando os recursos da natureza. Os velhos pajés passaram verbalmente essa cultura através dos anos e hoje os Caruanas são conhecidos por suas histórias e seu legado cultural. Na Ilha de Marajó, eles inspiram ações de educação ambiental, ações culturais como o resgate da cerâmica marajoara e ações sociais através da Instituição Caruanas do Marajó, Cultura e Ecologia, presidida pela Pajé Zeneida Lima, única pajé marajoara que preservou na memória e em seus escritos a imensa riqueza deste povo que habita as águas do Marajó. Hoje, os Caruanas são conhecidos, já foram enredo da Escola de Samba Beija-flor, já foram considerados bem Imaterial do Estado do Pará e agora serão conhecidos através do Filme "Encantados" de Tizuka Yamazaki.
Os Caruanas ou Encantados, no singular Caruana ou Encantado são as energias viventes nas águas. Estes Entes Encantados possuem missões que só podem ser cumpridas através de um Pajé. O básico das missões de um Caruana é, em determinado tempo, preservar o equilíbrio natural, mas em sua grande maioria dedicam-se à cura do vivente da Terra. Eles vêm em auxílio dos humanos que sofrem e lhes trazem alento às dores e a cura para seus males. O Pajé possui também uma missão que é a de ser a ponte, o elo de ligação com o Mundo dos Encantados. É através do Pajé no ritual da Pajelança que os Caruanas conhecem as necessidades dos viventes. É através dele que os Encantados produzem curas no corpo físico, equilibram os desvios da mente e cuidam do nosso interior, nosso princípio de vida, o espírito.
Finalmente, após cumprir as tarefas impostas pela Natureza, os Caruanas descem por uma Escadinha de Coral encantada, onde gradativamente são submetidos a uma transformação decrescente. Quanto mais desenvolvido o Caruana, mais ele percorre o caminho inverso para as profundezas. Sua aparência também vai se modificando até atingir sua forma mais elementar. Torna-se água novamente, a origem de tudo, o elemento principal e fundamental da vida, o que nos sustenta, dá forças e energias.
Companheiro do Fundo[]
Entre os sobrenaturais que se acredita habitar o fundo dos rios e dos igarapés ou dos poções, estão os companheiros do fundo, também chamados caruanis. Habitam um reino encantado, espécie de mundo submerso. O reino é descrito à semelhança de uma cidade, com ruas e casa, mas onde tudo brilha como se revestido de ouro. Os habitantes desse reino do fundo dos rios têm semelhança com criaturas humanas; sua pele é muito alva e os cabelos louros. Alimentam-se de uma comida especial que, se provada pelos habitantes deste mundo, os transforma em encantados que jamais retornam do reino. Os companheiros do fundo agem como espíritos familiares dos pajés ou curadores. A concepção desses companheiros é algo de vago para o leigo. Alguns acreditam que sejam botos, considerados extremamente malignos. Outros distinguem entre companheiros e botos, classificando estes últimos em uma categoria especial de seres encantados. Uma ou outra concepção lhes atribui realidade, existência. No primeiro caso, as criaturas tomam a forma de boto, mas, no fundo, têm a semelhança de humanos.
O ENCANTADO DO SURUBIM[]
O Rio Surubim é um importante curso d’água que nasce na cidade de Altos, correndo suas águas para a cidade de Campo Maior, onde deságua no Rio Longá. Ainda no século XVIII, as suas margens já eram habitadas, sendo de extrema importância para o início das povoações que deram origem a Altos e Campo Maior.
Desde o início da colonização do Piauí, o Rio Surubim foi muito utilizado por índios, sertanejos e desbravadores que passaram ou viveram em regiões próximas de suas águas. Até hoje as pessoas servem-se de suas águas, em especial para banhos e pescaria.
Um dos trechos mais conhecidos pelos altoenses é o que fica a poucos quilômetros das terras urbanas altoenses, no sentido de quem vai para Campo Maior, pela BR-343. Ali existe uma pequena ponte de concreto, construída na primeira metade do século XX, por onde todos os dias inúmeros veículos transitam sobre as águas do Rio.
Ali naquela região contam-se histórias de assombrações e fenômenos sobrenaturais que desde tempos ancestrais assustam os que por ali passam. Conta-se que alguns anos atrás morava em uma casa ao pé de um morro que fica próximo da ponte um senhor de nome Raimundo, que teve longa vida.
À noitinha o velho Raimundo gostava de sentar à porta de casa, onde ficava sentado chupando um cigarro de fumo, olhando as estrelas ao som da cantoria dos grilos. Era um ritual que praticava todas as noites antes de dormir. Como vivia só, gostava de estabelecer uma sintonia entre seus sentidos e a natureza. Ficava ali por horas antes de ir dormir, apreciando a beleza das criações divinas.
Uma noite, Raimundo percebeu uma coisa muito estranha. No céu brilhava uma imensa lua cheia, de modo que pôde ver bem, embora estivesse um pouco distante. Uma figura estranha, um homem, que seguia pela estrada, no sentido Campo Maior-Altos, carregando à mão algo luminoso, que chamava a atenção em meio à estrada escura. Apesar de estranhar, Raimundo apenas ficou observando, e logo esqueceu a figura.
No entanto, na noite seguinte, no mesmo horário, novamente à porta de casa, Raimundo tornou a ver aquele homem caminhando tarde da noite, com uma luzinha na mão. O mesmo se deu noite após noite, ao longo de semanas e meses, sempre na mesma hora. O velho não conseguia entender o que uma pessoa podia fazer todo dia àquela hora, naquele lugar.
Um dia, Raimundo cedeu à curiosidade e, percebendo a aproximação do homem, resolveu segui-lo de longe, tomando cuidado para não ser percebido, querendo descobrir o que ele ia fazer.
Depois de um tempo caminhando pela estrada, quando já se aproximavam da ponte, viu o homem entrando na mata e descendo até o leito do rio, onde desapareceu nas águas escuras. Tudo que dava pra ver era o foguinho que o homem levava na mão, andando sob a água. O pobre Raimundo, sem entender muito bem, ainda ficou olhando de longe para ver se ele voltava à tona, esperando um bom tempo, mas nada aconteceu.
Foi então que o velho percebeu que aquela figura não era coisa desse mundo, e, sentindo um arrepio percorrer o seu corpo, na companhia apenas da brisa fria da noite, resolveu voltar às pressas para casa.
No outro dia comentou o assunto com alguns conhecidos, foi quando lhe contaram que alguns pescadores já teriam visto a sinistra aparição. Dizem que seria um espírito de um pescador ou de um banhista que em tempos remotos teria se afogado nas águas do rio e, desde então, passou a ser visto na região.
Quem mais o vê são pescadores que não respeitam o período de reprodução dos peixes. Esses, dando de cara com a figura sinistra, saem dali às pressas, abandonando tarrafas, enganchos e varas de pesca.
Ao que dizem, haveria ali, dentro do rio, um tesouro sepultado há muito tempo, de modo que pra encontrá-lo a pessoa precisa encarar sem medo a aparição, que lhe conduzirá sob as águas até o lugar.
As pessoas também dizem que por ali, na margem das águas, nas matas, e aos pés dos morros, na região entre o morro e a fazenda Formosa, podem ser vistas, vez em quando, bolas de luz flutuantes transitando na noite escura. Ninguém sabe direito o que são, até porque, quando vêem essas coisas, as pessoas correm às léguas.
De fato essas coisas do outro mundo metem medo nas pessoas e nem todo mundo tem a coragem do velho Raimundo, pra ir atrás e descobrir o que é. Era ele, de fato, um sertanejo valente como não se vê mais, pois apesar de vez por outra continuar percebendo marmotagens por ali, não tinha medo nenhum, tanto que viveu naquele lugar até o fim dos seus dias.
Ainda hoje, de vez em quando, aparece alguém dizendo ter visto coisas estranhas por ali. Quando contam, contudo, as pessoas riem, não acreditam. Dizem que é história de trancoso.
O povo de hoje em dia acha que sabe das coisas, mas pergunte se eles tem coragem de ir lá de noite. Só falam da boca pra fora. Duvidar, da boca pra fora é fácil… Eu queria ver era eles irem lá conferir, como fez o velho Raimundo.
Veja também[]
Fonte[]
http://www.caruanasdomarajo.com.br/novo/pagina/sec/198/sel/gp
https://ofolclorebrasileiro.wordpress.com/lendas-e-mitoss-regiao-norte/
https://ofolclorebrasileiro.wordpress.com/lendas-e-mitoss-regiao-norte/
https://www.facebook.com/caruanasdomarajo/posts/1134806909882129/
COSTA, João Vicente. Entrevista a José Gil Barbosa Terceiro. Altos, 25 de maio de 2019.
PAIXÃO, Marcus. Memória, Economia, Religião, História e Geografia a partir do Rio Surubim. Campo Maior em Foco. Disponível em: <http://www.campomaioremfoco.com.br/ver_coluna/4/Memoria–Economia–Religiao–Historia-e-Geografia-a-partir-do-Rio-Surubim>. Acesso em 26 de maio de 2019.
WIKIPÉDIA. Rio Surubim (Piauí) (verbete). Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Surubim_(Piau%C3%AD)>. Acesso em 26 de maio de 2019.