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Exu

Exu, ilustração de José Carlos Martinez

Exu2

Imagem africana de Exu

Ogoexu

Ogó de Exu

Exu (do iorubá Èṣù) ou Elegbara (do iorubá Ẹlẹgbára), chamado Eleguá ou Elegguá em Cuba, é um orixá ou um ẹbọra de múltiplos e contraditórios aspectos, o que torna difícil defini-lo de maneira coerente. De caráter irascível, ele gosta de suscitar dissensões e disputas, de provocar acidentes e calamidades públicas e privadas. É astucioso, grosseiro, vaidoso e indecente. Entretanto, Exu possui o seu lado bom e, se é tratado com consideração, reage favoravelmente, mostrando-se serviçal e prestativo. Se, pelo contrário, as pessoas se esquecerem de lhe oferecer sacrifícios e oferendas, podem esperar todas as catástrofes.

Como personagem histórico, Exu teria sido um dos companheiros de Odudua, quando da sua chegada a Ifé e chamava-se Èṣù Ọbasin. Tornou-se, mais tarde, um dos assistentes de Orunmilá, que preside a adivinhação pelo sistema de Ifá.

Como orixá, diz-se que ele veio ao mundo com um porrete, chamado ọgò, que teria a propriedade de transportá-lo, em algumas horas, a centenas de quilômetros e de atrair, por um poder magnético, objetos situados a distâncias igualmente grandes. É o guardião dos templos, das casas, das cidades e das pessoas e serve de intermediário entre os homens e os deuses. Por essa razão é que nada se faz sem ele e sem que oferendas lhe sejam feitas, antes de qualquer outro orixá, para neutralizar suas tendências a provocar mal-entendidos entre os seres humanos e em suas relações com os deuses e, até mesmo, dos deuses entre si.

O lugar consagrado á Exu entre os iorubás é constituído de um pedaço de pedra poderosa chamada yangi, ou por um montículo de terra grosseiramente modelado na forma humana, com olhos, nariz e boca assinalados com búzios; ou então ele é representado por um estátua, enfeitada com fileira de búzios, tendo em suas mãos pequenas cabaças (àdó), contendo os pós por ele utilizados em seus trabalhos. Seus cabelos são presos numa longa trança, que cai para traz e forma, em cima, uma crista para esconder a laminada faca que ele tem no alto do crânio.

A Exu são oferecidos bodes e galos, pretos de preferência, e prato cozidos em azeite-de-dendê (epo), porém nunca se lhe deve oferecer o óleo branco (àdí), que é extraído das amêndoas contidas nos caroços do dendê. Este àdí tem a reputação de ser “cheio de violência e de cólera”. Dizem que uma boa maneira de se vingar de um inimigo consiste em derramar sobre a estátua de Exu esse óleo, fervendo de preferência, declarando em voz alta que essa oferenda é feita pela pessoa desprezada. Exu não deixaria então de lhe pregar uma peça!

Os elégùn de Exu participam das cerimônias celebradas para os outros orixás. Alguns acompanham Xangô e traz nas costas uma tralha curiosa, onde se encontram, em desordem, duas ou três estatuetas de Exu, fieiras de búzios, pentes, espelhos e as indispensáveis cabacinhas àdó, contendo os elementos de seu poder. Outros, chamados olúpòna, participam das cerimônias que se realizam a cada quatro dias, para Ogum, na região de Holi. No decorrer de suas danças, trazem sempre na mão um ògo, bastão de forma fálica.

Exu no Novo Mundo[]

No Brasil, como em Cuba, Exu foi sincretizado com o Diabo. Não inspira, porém, grande terror, pois sabe-se que, quando tratado convenientemente, ele trabalha para o bem, quer dizer, pode ser enviado para fazer mal às pessoas más ou àquelas que nos prejudicam ou, ainda, àquelas que nos causam ressentimentos. Chamam-no, familiarmente, o “Compadre” ou o “Homem das Encruzilhadas”, pois é nesses lugares que se depositam, de preferência, as oferendas que lhe são destinadas. Poucas pessoas lhe são abertamente consagradas em razão desse sincretismo com o Diabo. A tendência, logo que ele se manifesta, é de acalmá-lo, de fixá-lo, oferecendo-lhe sacrifícios e procedendo à iniciação da pessoa interessada em proveito de seu irmão Ogum, com o qual Exu divide um caráter violento e arrebatado.

O lugar consagrado a Exu é, geralmente, ao ar livre ou no interior de uma pequena choupana isolada ou, ainda, atrás da porta da casa. É simbolizado por um tridente de ferro, plantado sobre um montículo de terra e, algumas vezes, por uma imagem, igualmente de ferro, representando o Diabo brandindo o tridente.

A segunda-feira é o dia da semana consagrado a ele. As oferendas, de animais e comida, como na áfrica, são-lhe apresentadas antes das dos outros orixás. Antes de se realizar o xirê dos orixás, faz-se, na Bahia, o padê ("encontro" ou "reunião", em iorubá), durante a qual Exu é chamado, saudado, cumprimentado e enviado ao além com uma dupla intenção: convocar os outros deuses para a festa e, ao mesmo tempo, afastá-lo para que não perturbe a boa ordem da cerimônia com um dos seus golpes de mau gosto.

Seu símbolo é o ogó (bastão com cabaças que representa o falo) e suas contas e cores são o preto e o vermelho. Sacrifica-se-lhe bode, cabrito, galo, galinha d´angola e pato e oferece-se-lhe farofa com dendê, acaçá, acará, obi, feijão, inhame, água e aguardente. Sua saudação é "Laroiê Exu!" que significa Exu, o bem falante e comunicador.

Diz-se na Bahia que existem vinte e um Exus, segundo uns, e apenas sete, segundo outros. Alguns dos seus nomes podem passar por apelidos, outros parecem ser letras dos cânticos ou fórmulas de louvores. Eis alguns: Exu-Elegbá ou Exu-Elegbará e seus possíveis derivados: Exu-Bará ou Exu-Ibará, Exu-Alaketo, Exu-Laalu, Exu-Jeto, Exu-Akessan, Exu-Loná, Exu-Agbô, Exu-Larôye, Exu-Inan, Exu-Odara, Exu-Tiriri.

Mitos de Exu[]

Vários mitos contam as desgraças provocadas por Exu contra quem se esquece de lhe fazer as oferendas e sacrifícios prescritos pelo costume:

  • Dois amigos trabalhavam em campos vizinhos. Exu colocou um gorro vermelho de um lado e branco do outro e passou ou longo de um caminho que separava os dois campos. Ao fim de alguns instantes, um dos amigos fez lusão a um homem de gorro vermelho; o outro retrucou que o gorro era branco e o primeiro voltou a insistir, mantendo a sua afirmação. O segundo permaneceu firme na retificação. Como ambos eram de boa fé, apegaram-se aos seus pontos de vista, sustentando-os com ardor e, logo depois, com cólera. Acabaram travando uma luta corpo a corpo e mataram-se um ao outro.
  • Uma mulher se encontrava no mercado vendendo os seus produtos. Exu põe fogo na sua casa e ela corre para lá, abandonando o seu negócio. A mulher chega tarde demais, a sua casa está queimada e, durante esse tempo, um ladrão levou as suas mercadorias.
  • Exu foi procurar uma rainha abandonada já há algum tempo por seu marido e lhe disse: "Traga-me alguns fios de barba do rei e corte-os com esta faca. Eu lhe farei um amuleto que trará o seu marido de volta’. Em seguida, Exu foi à casa do filho da rainha, o príncipe herdeiro, que vivia numa residência situada fora dos limites do palácio do rei. O costume assim o determinava, a fim de prevenir a tentativa de assassinato de um soberano por um príncipe impaciente para subir ao trono. "O rei vai partir para a guerra", disse-lhe ele, "e pede o seu comparecimento esta noite ao palácio, acompanhado dos seus guerreiros". Finalmente Exu foi ao rei e disse-lhe: "A rainha, magoada por sua frieza, pretende matá-lo para se vingar. Cuidado com esta noite". E a noite veio. O rei deitou-se, fingiu dormir e viu, logo depois a rainha aproximar-se com uma faca de sua garganta. O que ela queria era cortar o fio da barba do rei, mas ele julgou que ela desejava assassiná-lo. O rei desarmou-a ambos lutaram, fazendo grande algazarra. O príncipe, que chegava ao palácio com os seus guerreiros, escutou gritos no aposento do rei e correu para lá. Vendo o rei com uma faca na mão, o príncipe pensou que ele queria matar a sua mãe. Por outro lado, o rei, ao ver o filho penetrar nos seus aposentos, no meio da noite, armado e seguido por seus guerreiros, acreditou que eles desejam assassiná-lo. Gritou por socorro. A sua guarda o acudiu e houve uma grande luta, seguindo de massacre generalizado.

Exu na Umbanda[]

Segundo a concepção mais comum na Umbanda, os exus são guardiões, encaminhadores e combatentes das forças das trevas. Cabe a eles o combate direto contra as energias que circulam no Astral Inferior, pois conhecem profundamente os caminhos e trilhas desse ambiente energético. É a sua função primeira, assim como a dos caboclos e pretos-velhos é a de orientar e aconselhar. Seriam os "policiais" do além, a serviço dos orixás a cujas linhas pertencem e com os quais estão comprometidos, encarregados de reprimir os quiumbas, espíritos obsessores e moralmente atrasados.

Outras concepções, porém, fazem dos exus entidades amorais, capazes de fazer tanto o bem quanto o mal em troca de oferendas e sacrifícios. Para uma discussão mais completa, veja exus.

Referências[]

  • Pierre Fatumbi Verger, Orixás: deuses iorubás na África e no Novo Mundo, São Paulo: Corrupio, 1981
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