As Horas (do grego Ώραι, Horai) eram filhas de Zeus e Têmis, originalmente deusas do ano, das estações e da ordem natural necessária à prosperidade do campo. Seu nome deriva do proto-indo-europeu *yor-a, cognato do latim hornus, "deste ano", gótico jer, antigo alemão jar, "ano", alemão moderno Jahr, com o mesmo sentido. Por expansão de sentido, passaram, mais tarde a personificar também a ordem humana e social
Associadas com as Moiras, que eram suas meias-irmãs, as Horas igualmente faziam as vezes de parteiras dos deuses. Também guardavam as portas do Olimpo, organizando a passagem das estrelas que mediam as estações e dos deuses que deveriam descer à terra. Participaram dos mitos também fazendo parte do cortejo de deusas e deuses relacionados ao trabalho agrícola e à passagem das estações, principalmente Hera (rainha dos céus), Afrodite (da procriação), Hermes (dos rebanhos) e Perséfone (do renascer da vegetação). Eram também encarregadas de guardar e servir o alimento dos deuses, a ambrosia, e de oferecê-lo aos humanos que viessem a merecer a imortalidade e a divinização.
Foi só muito mais tarde, por ampliação do sentido do latim Horae para qualquer divisão do tempo, que a palavra adquiriu o sentido de divisão do dia em doze partes (originalmente, não se dividia a noite) e as Horas passaram a personificá-las.
Horas em Hesíodo[]
Na versão mais conhecida nas eras helenística e romana, citada por Hesíodo, pseudo-Apolodoro, Pausânias e Higino, as Horas eram três:
- Dice, Dike ou Dique, (Δίκη, "Justiça"), deusa da justiça humana, enquanto sua mãe Têmis era a deusa da justiça divina. Dique (Dike) nasceu como mortal e Zeus a pôs na terra para manter a humanidade no caminho da justiça, mas logo descobriu que isso era impossível e a trouxe para viver a seu lado no Olimpo.
- Eunomia (Ευνομία, "Disciplina" ou "Equidade"), deusa das leis e da legislação, às vezes considerada filha de Hermes e Afrodite.
- Irene, (Ειρήνη, "Paz"), chamada Pax pelos romanos, personificava a paz e a riqueza e era representada como uma jovem carregando uma cornucópia, um cetro ou uma tocha ou um ríton (taça com a forma de um chifre, usada em libações). Hesíodo lhe dava o epíteto de Talo (thallô). Em uma alegoria tardia, aparece casada com Zéfiro, o vento da primavera e dessa união teria nascido Carpo, o fruto.
Horas Atenienses[]
Na versão ateniense, possivelmente mais arcaica, as Horas, cultuadas pelos camponeses, eram representadas como jovens rodeadas de flores coloridas, vegetação e outros símbolos de fertilidade. Eram três, representando diretamente as três estações de quatro meses originalmente reconhecidas pelos gregos, a saber, primavera, verão e outono:
- Talo (Θαλλώ, Thallô, "broto") ou Tálate, deusa da primavera, dos brotos e dos botões, portadora de flores e protetora da juventude.
- Auxo (Αυξώ, Auxô, "cresço") ou Auxésia, também cultuada ao lado de Hegemone em Atenas como uma das suas duas Cárites.
- Carpo (Καρπώ, Karpô, "produto", "fruto"), encarregada do outono, do amadurecer e da colheita, bem como de guardar o caminho para o monte Olimpo e afastar as nuvens que rodeavam a montanha quando um dos deuses saía. Era também uma atendente de Perséfone, Afrodite e Hera e era associada com Dioniso, Apolo e Pã.
Horas Argivas[]
Em Argos, reconhecia-se apenas duas Horas: Dâmia ("Terra-nutriz", possivelmente equivalente a Carpo) e Auxésia. Em interpretações evemeristas tardias, eram vistas com jovens cretenses adoradas como deusas depois de terem sido injustamente lapidadas até a morte.
Outras versões[]
O pseudo-Higino cita mais uma versão, que lista três Horas: Ferusa (Pherousa, "a que traz (substância)"), Euporia ("Abundância") e Ortósia (Orthosie, "Prosperidade").
Nonnus, na Dionisíaca, cita quatro Horas: Iar (Eiar, "Primavera"), Tero (Theros, "Verão), Quimo (Cheimon, "Outono") e Ftinóporo (Phthinoporon, "Inverno").
Horas do Dia[]
Um conjunto de doze Horas passou a personificar as doze horas do dia (do nascer ao pôr do Sol), como suas deusas tutelares:
- Auge, a primeira luz
- Anatole ou Anatólia, "Nascer-do-sol"
- Música (Mousika), a hora matinal de estudo da música
- Ginástica (Gymnastika ou Gymnasia), a hora matinal do exercício físico
- Ninfa (Nymphe), hora matinal do banho
- Mesêmbria, "Meio-dia"
- Esponda (Sponde), hora das libações após a refeição
- Elete, "rezadora", primeira hora de trabalho da tarde
- Acte (Akte, "comer") ou Cípris (epíteto de Afrodite, relacionada a prazer), a segunda das horas de trabalho da tarde
- Hésperis, a tarde
- Dísis (Dysis), "Pôr-do-sol"
- Arctos (Arktos), Constelação da noite (Ursa Maior)