Fantastipedia
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Maire-Atê O filho de Maire-Pochy, que foi o índio vingativo que viveu algum tempo entre os tupinambás antes de regressar aos céus, de onde, presumivelmente, viera. O prosseguidor da saga dos Monan possuía um cocar de fogo, ou acangatara, que tinha o poder de incendiar a cabeça daquele que resolvesse experimentá-lo sem a autorização do dono. Apesar disso, não faltou um imprudente disposto a arriscar. Quando as chamas envolveram sua cabeça, ele correu para uma lagoa e mergulhou, convertendo-se instantaneamente numa saracura.Dizem que é por isso que essa ave possui até hoje o bico e as patas vermelhas. ao contrario de seu pai, Maite-Atê era muito belo, e deixava muitas índias loucas por sua beleza descomunal

Filhos Míticos de Atê e o Cocar de fogo[]

Quando o filho Maire-Pochy retornou à sua verdadeira casa, que era o Sol, deixou no mundo um filho que atendia pelo nome de Maire-Até.

Certa feita, Maire-Até resolveu fazer uma viagem com sua esposa.

Mas a esposa, além de ser meio lenta, estava grávida e não conseguia acompanhar os passos ansiosos do marido.

– Lenta mesmo! – disse a voz de Maire-Até, sumindo na mata.

A pobre mulher caminhou desatinada até perder-se no cipoal da floresta.

– Maire-Até, onde está você?

– Ele foi por ali! – disse, de algum lugar, uma voz fininha.

A índia estaqueou, assustada.

– Quem disse isso?

– Siga por aquela vereda, minha mãe! – disse a vozinha, outra vez.

Só então ela compreendeu que a voz vinha de dentro da sua barriga.

– Você? Então já fala? – disse ela para o próprio ventre.

Um pica-pau que observava tudo parou de martelar o tronco da árvore e balançou a cabeça, desconsolado:

– Outra doida!

Mas era verdade, sim: o feto miraculoso, antes mesmo de nascer, já tinha o dom da fala.

– Vamos, minha mãe, alcance meu pai! – disse a vozinha, impaciente.

A mulher arremessou-se na direção da vereda e continuou a buscar Maire-Até, mas ele não era capaz de diminuir o passo e cada vez distanciava-se mais.

Ao passar por uma moita cheia de frutinhas vermelhas, a vozinha gritou:

– Espere, minha mãe, junte aquelas frutinhas!

Mas a índia estava com pressa e não quis parar por nada deste mundo.

– Eu quero as frutinhas! – esbravejou a criança, sapateando no ventre da mãe.

– Elas não prestam, dão dor de barriga! – exclamou a índia.

Ao chegar a uma encruzilhada, ela bateu na barriga.

– Para que lado seu pai foi?

Infelizmente, desde aquele instante, a vozinha emudeceu. A índia tentou de todos os modos fazer seu ventre falar outra vez, mas tudo o que conseguiu extrair dele foram alguns roncos de fome.

Então sua alma conheceu o pânico.

Perdida! Sim, agora ela estava positivamente perdida! Não tardaria para que os maus espíritos ou as crias monstruosas da floresta viessem atazaná-la!

Depois de muito andar, acabou enxergando uma oca perdida.

– Graças a Tupã, estou salva!

Pelo menos era o que ela pensava, pois na tal oca vivia um índio que estava havia anos sem ver uma índia. Assim que ela pediu a sua ajuda, ele puxou-a para dentro da oca e fez com ela o que bem quis.

Resultado: a esposa de Maire-Até ficou grávida outra vez.

Quando tudo terminou, ela cobriu o rosto com as mãos. No seu peito misturavam-se a vergonha e o sentimento de vingança. O sentimento de vingança ela votava, antes de tudo, ao seu marido, que não quisera esperá-la. Quando, porém, decidiu levar a cabo a segunda vingança, contra o seu agressor, descobriu que um castigo sobrenatural já havia descido sobre o ele: na esteira onde ela havia sido abusada, restava apenas, no lugar do índio, um gambá fedorento.

A índia abandonou a oca certa de que suas desditas haviam chegado ao fim, mas ainda havia um mal maior guardado. Nem bem deixara o lugar quando deparou-se com um índio canibal. Ele se apresentou como Jaguaretê e disse que pretendia comê-la.

E tal como disse, assim o fez, de tal sorte que a pobre índia foi devorada até o último bocado pelo tal Jaguaretê e pelos da sua comunidade, conhecendo ali, finalmente, o fim das suas desditas.

Antes de devorar a índia, porém, o canibal retirou do ventre as duas crianças – o filho de Maire-Até e o do índio que a havia atacado – e atirou-as no monturo.

No dia seguinte, algumas índias piedosas recolheram as duas crianças.

Diz a lenda que, ao crescerem, os dois irmãos vingaram a morte da mãe atraindo o índio e os seus sequazes até uma ilha, onde lhes prometeram farta alimentação. Na travessia pela água, os canibais se transformaram em animais selvagens – possivelmente em jaguares, já que, segundo os estudiosos, o nome do líder Jaguaretê remete à figura do jaguar.

Maire-Até criou os dois filhos, o legítimo e o ilegítimo. O ilegítimo, como não podia deixar de ser, era discriminado em toda parte, sendo chamado de “o filho do gambá”.

Maire-Até educou-os, porém, da mesma maneira, impondo-lhes as provas rudes da selva. Numa dessas provas, os dois irmãos deveriam passar por entre duas rochas que tinham o poder de esmagar aqueles que tentassem passar entre elas. O filho do gambá foi esmagado ao tentar a proeza, enquanto o filho de Maire-Até saiu-se vitorioso. Penalizado, porém, do meio-irmão, o filho legítimo ressuscitou-o, pois possuía os dons mágicos da descendência de Monan, o semideus civilizador.

Mas havia, ainda, uma última prova: furtar os utensílios de pesca de Agnen, um ser mítico cuja ocupação principal era a de pescar o peixe Alain, alimento dos mortos.

Decidido a ter sucesso no seu furto, o filho legítimo de Maire-Até tornou-se um peixe e, depois de deixar-se pescar, furtou tudo quanto quis enquanto o pescador estava distraído.

O filho do gambá, porém, saiu-se mal ao tentar o mesmo estratagema, e acabou sendo morto mais uma vez. Felizmente, o seu irmão demonstrou novamente a sua generosidade e, depois de recolher as espinhas do filho do gambá – lembremos que ele se metamorfoseara em peixe –, assoprou sobre elas e o jovem retornou, desta forma, à vida.

Existem várias versões para essas proezas dos gêmeos míticos, que variam muito conforme a tribo, mas o certo é que são dois personagens fundamentais da religião indígena.

FONTES[]

http://www.funai.gov.br/index.php/comunicacao/noticias/2825-associacao-indigena-fecha-parceria-para-trabalhar-pesca-esportiva-no-am

https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2017-04/indigenas-na-cidade-pobreza-e-preconceito-marcam-condicao-de-vida

https://pt.slideshare.net/CatarinaCartaxo/100-lendas-do-folclore-brasilei-as-franchini-2

https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/cultura-indigena.htm

https://pt.wikipedia.org/wiki/Tupinambás

https://www.google.com/search?q=indio+silhueta&tbm=isch&ved=2ahUKEwiW2vGb7ZPtAhVVCtQKHbc9B7kQ2-cCegQIABAA&oq=indio+silhueta&gs_lcp=CgNpbWcQAzIHCCMQ6gIQJzIHCCMQ6gIQJzIHCCMQ6gIQJzIHCCMQ6gIQJzIHCCMQ6gIQJzIHCCMQ6gIQJzIHCCMQ6gIQJzIHCCMQ6gIQJzIHCCMQ6gIQJzIHCCMQ6gIQJ1DDkAFY0dMBYNzXAWgBcAB4AIABAIgBAJIBAJgBAKABAaoBC2d3cy13aXotaW1nsAEKwAEB&sclient=img&ei=6SS5X9bBINWU0Aa3-5zICw&bih=658&biw=984&client=opera&hs=lQX#imgrc=crLws2QEu-Rc4M

https://2019/09/lenda-indigena-maire-monan-e-os-tres.html

Texto de A.S. Franchini em "As 100 Melhores Lendas do Folclore Brasileiro", L&PM Editores, Porto Alegre, 2011, excertos. Digitalizado, adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.

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