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Oxala

Oxalá, ilustração de José Carlos Martinez

Oxalá, Orixalá (do iorubá Òrìṣànlá, "O Grande Orixá"), ou Obatalá (do iorubá Ọbàtálá, "O Rei do Pano Branco"), é o mais importante e mais elevado dos orixás iorubás. Foi o primeiro a ser criado por Olodumaré, o deus supremo. Òrìṣànlá-Ọbàtálá é também chamado Òrìṣà-Ìgbò ou Ọbà-Ìgbò, o Orixá ou Rei dos Igbôs.

O Oxalá histórico[]

Ọbàtálá teria sido o rei dos igbôs, uma população instalada perto do lugar que se tornou mais tarde a cidade de Ifé. A referência a esse fato não se perdeu nas tradições orais no Brasil, onde Orixalá e freqüentemente mencionado nos cantos como Orixá Igbô ou Babá Igbô, “ou orixá” ou “o rei dos igbôs”. Durante seu reinado, ele foi vencido por Odùduà, que encabeçada um exército, fazendo-se acompanhar da dezesseis personagens, cujos nomes variam segundo os autores. Estes são conhecidos pelo nome de awọn agbàgbà, “os antigos”. Esses acontecimentos históricos corresponderiam à parte do mito onde Orixalá foi enviado para criar o mundo (enquanto, na realidade, ele tornou-se o rei dos igbôs) e foi no mito que Odùduà tornou-se o rei do mundo, por ter roubado a Orixalá o “saco da criação” (enquanto, na realidade, ele destronou Òrìşànlá-Ọbà-Ìgbò, usurpando-lhe o reino).

Odùduà teria vindo do leste, no momento das correntes migratórias causadas por uma invasão berbere no Egito. Esse fato provocou deslocamentos de populações inteiras, expulsando-se progressivamente, umas às outras, em direção ao oeste, para terminar em Borgu, também chamada região dos baribas. Segundo uns, Odùduà teria vindo de uma longínqua região do Egito ou mesmo de Meca e, segundo outros, de um lugar perto de Ilê-Ifé, chamado Oké-Ọra, onde os invasores teriam habitado durante várias gerações.

Não foi sem resistência que Òrìşànlá-Ìgbò perdeu seu trono. Ele reagiu com energia e chegou mesmo a expulsar Odòduà de seu palácio, onde já se encontrava instalado. Foi ajudado por seus partidários, Orẹlúéré e Ọbawinni, mas foi uma vitória de curta duração, pois, por sua vez, foi expulso por Ọbamẹri, partidário de Odùduà, e, assim, Òrìşànlá teve que se refugiar em Ideta-Oko. Ọbamẹri instalou-se na estrada que ligava esse lugar e Ifé para impedir, durante muito tempo, a volta de Òrìşànlá a esse lugar.

Tendo este perdido o seu poder político, conservou funções religiosas e voltou mais tarde para instalar-se em seu templo em Ideta-Ilê. A coroa de Òrìşànlá-Ọbà-Ìgbò, tomada por Odùduà, teria sido conservada até hoje no palácio do Ọòni, rei de Ifé e descendente de Odùduà. Essa coroa, chamada até, é elemento essencial na cerimônia de entronização de um novo Ọòni.

Os sacerdotes de Òrìşànlá desempenham um papel importante nessas ocasiões. Eles participam de certos ritos, durante os quais eles próprios colocam a coroa na cabeça do novo soberano de Ifé. Este também, antes da sua coroação, deveria dirigir-se ao templo de Òrìşànlá. Durante as festas anuais, celebradas em Ifé para Òrìşànlá, os sacerdotes desse deus fazem alusão à perda da coroa de Ọbà-Ìgbò, lembrando seu antigo poder sobre o país antes da chegada de Odùduà e da fundação de Ifé. Além disso. Ọòni deve enviar todos os anos um seu representante a Idẹta-Oko, onde residiu Òrìşànlá. O representante deve levar oferendas e receber instruções ou a benção de Òrìşànlá.

Orixás funfun[]

Oxalá encabeça a família dos orixás funfun, os orixás brancos, que usam o ẹfun (giz branco) para enfeitar o corpo, dos quais há 154, segundo Pierre Verger, que cita os seguintes:

  • Òrìşá Olufọn ajígúnà koari, “aquele que grita quando acorda”;
  • Òrìşá Ògiyán Ewúléèjìgbò, “Senhor de Ejigbô”;
  • Òrìşá Ọbaníjìta;
  • Òrìşá Àkirè ou Ìkirè, um valente guerreiro muito rico que transforma em surdo-mudo aquele que o negligencia;
  • Òrìşá Ẹtẹko Ọba Dugbe, outro guerreiro muito ligado a Òrìşànlá;
  • Òrìşá Aláşẹ ou Olúorogbo, que salvou o mundo fazendo chover num período de seca
  • Òrìşá Olójo;
  • Òrìşá Àrówú;
  • Òrìşá Oníkì;
  • Òrìşá Onírinjà;
  • Òrìşá Ajagẹmọ, para o qual, durante sua festa anual em Ẹdẹ, dança-se e representa-se com mímicas um combate entre ele e Olunwi, no qual este último sai vencedor e aprisiona seu adversário. Mas tarde Òrìşá Ajagẹmọ é libertado e volta triunfante para seu templo. Ulli Beier sugere que nesta representação poderia haver uma espécie de reconstituição da conquista do reino Igbô por Odùduà, da derrota de Orixalá no plano temporal e de sua vitória final no plano espiritual.
  • Òrìşá Jayé em Jayé;
  • Òrìşá Ròwu em Owu;
  • Òrìşá Ọlọbà em Obá;
  • Òrìşá Olúọfin em Iwọfin;
  • Òrìşáko em Oko;
  • Òrìşá Eguin em Owú.

A todos esses orixás funfun são feitas oferendas de alimentos brancos, como pasta de inhame, milho, caracóis e limo da costa. O vinho, o azeite de dendê e o sal são as principais interdições. As pessoas que lhes são consagradas devem sempre vestir-se de branco, usar colares da mesma cor e pulseiras de estanho, chumbo ou marfim. A rigor, deveriam ser os únicos a serem chamados orixás, sendo os outros designados pelos próprios nomes ou então, sob a denominação mais geral de ebora para os deuses masculinos. O termo imọlẹ abrangeria o conjunto dos deuses iorubás. O ritual de adoração de todos os orixás funfun é tão semelhante que, em alguns casos, é difícil saber se se trata de divindades distintas ou de nomes e manifestações diferentes de Oxalá.

Oxalá no Novo Mundo[]

Oxala2

outra interpretação de Oxalá

Na Bahia, Oxalá é considerado o maior dos orixás, o mais venerável e o mais venerado. Seus adeptos usam colares de contas brancas e vestem-se, geralmente, de branco. Sexta-feira é o dia da semana consagrado a ele. Esse hábito de se vestir de branco estende-se a todas as pessoas filiadas ao candomblé, mesmo aquelas consagradas a outros orixás, tal é o prestígio de Oxalá. É sincretizado com o Senhor do Bonfim, sem outra razão aparente senão a de ter ele, em Salvador, um enorme prestígio e inspirar fervorosa devoção a todas as categorias sociais.

Diz-se na Bahia que existem dezesseis Oxalás:

Babá Lejugbe é sem dúvida Òrìşà Ijùgbẹ na África, onde é igualmente chamado Òrìşà Ẹtẹko, um companheiro de Ọbàtálá. Orixá Kerê é na África, Òrìşá Àkirè ou Ìkirè, outro companheiro de Obatalá. Ajaguna é um dos nomes de Òrìşa Ogiyán, que na Bahia é também chamado de Babá Elemessô; Babá Igbô é o próprio Òrìşàálá. Olissassa no Brasil é a versão daomeana (jeje) de Lisa. Quanto a Odùdùa, figura na lista, sem dúvida, por causa de sua presença nos mitos de criação do mundo. Os mais conhecidos são Oxalufã, o Oxalá velho, e Oxaguiã, o jovem.

O imenso respeito que o Grande Orixá inspira às pessoas do candomblé revela-se plenamente quando chega o momento da dança de Oxalufã, durante o xirê dos orixás. Com essa dança, fecha-se geralmente a noite, e os outros orixás presentes vão cercá-lo e sustentá-lo, levantando a bainha de sua roupa para evitar que ele a pise e venha tropeçar.

O ritmo para Oxalá é o batá, que pode ser tocado em dois andamentos: o batá rápido e o batá lento. O batá lento é tocado para todos os orixás cuja dança denota cansaço e lentidão, como a dança de Oxalufã, o velho deus arcado, senhor da criação que, totalmente vestido de branco, "arrasta-se" pelo barracão, apoiado em seu paxorô (cajado). O batá rápido é tocado para Oxaguiã, entre outros. Este Oxalá moço dança guerreando, todo de branco, carregando uma "mão de pilão" e uma espada, símbolo da justiça deste deus. A saudação a Oxalá é "Epa Babá!" (do iorubá Èpa Bàbá!, "Salve, Pai!").

O arquétipo de personalidade dos devotos de Oxalá é aquele das pessoas calmas e dignas de confiança; das pessoas respeitáveis e reservadas, dotadas de força de vontade inquebrantável que nada pode influenciar. Em nenhuma circunstancia modificam seus planos e seus projetos, mesmo a despeito das opiniões contrárias, racionais, que as alertam para as possíveis consequências desagradáveis de seus atos. Tais pessoas, no entanto, sabem aceitar, sem reclamar, os resultados amargos daí decorrentes.

Mitos de Oxalá[]

  • Oxalá foi encarregado por Olodumaré de criar o mundo com o poder de sugerir (àbà) e o de realizar (àşẹ), razão pela qual é saudado com o título de Aláàbáláàşẹ. Para cumprir sua missão, antes da partida, Olodumaré entregou-lhe o “saco da criação”. Oxalá pôs-se a caminho apoiado num grande cajado de estanho, seu ọpá oşorò ou paxorô. No momento de ultrapassar a porta do Além, encontrou Exu, que entre as suas múltiplas obrigações, tinha a de fiscalizar as comunicações entre os dois mundos. Exu, descontente com a recusa do Grande Orixá em fazer as oferendas prescritas, vingou-me fazendo-o sentir uma sede intensa. Oxalá, para matar sua sede, furou, com o paxorô, a casca do tronco de um dendezeiro. Um líquido refrescante dele escorreu: era o vinho de palma. Ele bebeu-o ávida e abundantemente. Ficou bêbado, não sabia, mas onde estava e caiu adormecido. Veio então Ọlọfin-Odùduà, criado por Olodumaré depois de Oxalá e seu maior rival. Vendo o Grande Orixá adormecido, roubou-lhe “o saco da criação”, dirigiu-se à presença de Olodumaré para mostrar-lhe seu achado e lhe contar em que estado se encontrava Oxalá. Olodumaré exclamou: “Se ele esta neste estado, vá você, Odùduà! Vá criar o mundo!” Odùduà saiu assim do Além e se encontrou diante de uma extensão ilimitada de água. Deixou cair à substância marrom contida no “saco da criação”. Era terra. Formou-se então um montículo que ultrapassou a superfície das águas. Aí, ele colocou uma galinha cujos pés tinham cinco garras. Esta começou a arranhar e a espalhar a terra sobre a superfície das águas. Onde ciscava, cobria as águas, e a terra ia se alargando cada vez mais, o que o ioruba se diz ilè nfẹ, expressão que deu origem ao nome da cidade de Ilê-Ifé. Odùduà aí se estabeleceu, seguido pelos outros orixás, e tornou-se assim o rei da terra. Quando Oxalá acordou não mais encontrou ao seu lado o “saco da criação”. Despeitado, voltou a Olodumaré. Este, com castigo pela sua embriaguez, proibiu ao Grande Orixá, assim como aos outros de sua família, os orixás funfun, ou “orixás brancos”, beber vinho de palma e mesmo de usar azeite-de-dendê. Confiou-lhe, entretanto, como consolo, a tarefa de modelar no barro o corpo dos seres humanos, aos quais ele, Olodumaré, insuflaria a vida. Por essa razão, Oxalá é também chamado de Alámọrere, o “proprietário da boa argila”. Pôs-se a modelar o corpo dos homens, mas não levava muito a sério a proibição de beber vinho de palma e, nos dias em que se excedia, os homens saíam de suas mãos contrafeitos, deformados, capengas, corcundas. Alguns, retirados do forno antes da hora, saíam mal cozidos e suas cores tornavam-se tristemente pálidas: eram albinos. Todas as pessoas que entravam nessas tristes categorias são-lhe consagradas e tornam-se adoradoras de Orixalá. Mais tarde, quando Oxalá e Odùduà reencontraram-se, eles discutiram e se bateram com furor.

Oxalá na Umbanda[]

Jesus

Jesus como Oxalá, em tenda de Umbanda

Na Umbanda, Oxalá é considerado a vibração suprema se originam todas as outras. Representa o princípio, o Incriado, o Reflexo de Deus, o Verbo Solar. Sua cor é o branco, que contém todas as outras cores, assim como sua vibração contém as que representam os demais orixás. É considerado calmo, sereno, pacificador e criador e sincretizado com Jesus Cristo, que supostamente supervisiona toda a sua linha.

Referências[]

  • Pierre Fatumbi Verger, Orixás: deuses iorubás na África e no Novo Mundo, São Paulo: Corrupio, 1981
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