Ossãe, Ossãim, Ossain, Ossanha, Ossânhim, Ossanhe, Ossânim, Ossonhe, Oçânhim, Oçãe, Oçãim, Oçanha, Oçanhe, Oçânim ou Oçonhe (do iorubá Òsanyìn) é o orixá das plantas medicinais e litúrgicas. A sua importância é fundamental, pois nenhuma cerimônia pode ser feita sem a sua presença, sendo ele o detentor do àşẹ (o poder), imprescindível até mesmo aos próprios deuses. O nome das plantas, a sua utilização e as palavras (ọfọ), cuja força desperta seus poderes, são os elementos mais secretos do ritual no culto aos deuses iorubás.
Ossãe na África[]
O símbolo de Ossãe é uma haste de ferro, tendo, na extremidade superior, um pássaro em ferro forjado; esta mesma haste é cercada por seis outras dirigidas em leque para o alto. O pássaro representa o poder de Ossãe, é o seu mensageiro que vai a toda parte, volta e se empoleira sobre a cabeça de Ossãe para lhe fazer o seu relato. Esse simbolismo do pássaro é também associado às feiticeiras, aquelas freqüentemente chamada Eleýẹ, “proprietárias do pássaro-poder”.
A colheita das folhas deve ser feita com extremo cuidado, sempre em lugar selvagem, onde as plantas crescem livremente. Aquelas cultivadas nos jardins devem ser desprezadas, porque Ossãe vive na floresta, em companhia de Àrònì, um anãozinho, comparável ao saci-pererê, que tem uma única perna e, segundo se diz no Brasil, fuma permanentemente um cachimbo feito de casca de caracol enfiado num talo oco cheio de suas folhas favoritas. Por causa dessa união com Àrònì, Ossãe é saudado com a seguinte frase: “Olá! Proprietário-de-uma-única-perna-que-come-o-proprietário-de-duas-pernas!” alusão às oferendas de galos e pombos que possuem duas patas, feitas a Ossãe Àrònì, que possui apenas uma perna.
Os Ọlóòsanyìn, adeptos de Ossãe, são também chamados Oníìşègùn, curandeiros, em virtude de suas atividades no domínio das plantas medicinais. Quando eles vão colher as plantas para seus trabalhos, devem faze-lo em estado de pureza, abstendo-se de relações sexuais na noite precedente, e indo à floresta, durante a madrugada, sem dirigir palavra a ninguém. Além disso, devem ter cuidado em deixar no chão uma oferenda em dinheiro, logo que cheguem ao local da colheita.
Ossãe está estreitamente ligado a Orunmilá, o senhor das adivinhações. Estas relações, hoje cordiais e de franca colaboração, atravessaram no passado períodos de rivalidade. Algumas lendas refletem as lutas pela primazia e pelo prestígio entre os adivinhos babalaôs e os curandeiros onixegum. Como essas histórias são transmitidas através das gerações pelos babalaôs, não é de estranhar que tendam a glorificar mais Orunmilá, e em conseqüência eles mesmos, do que Ossain e os curandeiros.
Ossain é originário de Irão, atualmente na Nigéria, perto da fronteira com o ex-Daomé. Ele não fez parte dos dezesseis companheiros de Odùduà, quando de sua chegada a Ifé. O papel de curandeiro é assumido aí por Elésjẹ.
Na África, os curandeiros, chamados Ọlóòsanyìn, não entram em transe de possessão. Eles adquirem a ciência do uso das plantas após uma longa aprendizagem.
Ossãe no Novo Mundo[]
No Brasil, as pessoas dedicadas a Ossãe usam colares de contas verdes e brancas. Sábado é o dia consagrado a ele e as oferendas que lhe são feitas compõem-se de bodes, galos e pombos. Seu iaôs, ao contrário daqueles de África, entram em transe, mas nem sempre possuem conhecimento profundo sobre as virtudes das plantas. Quando eles dançam, trazem nas mãos o mesmo símbolo de ferro forjado, cuja descrição já foi feita anteriormente. O ritmo dos cantos e das danças de Ossãe é particularmente rápido, saltitante e ofegante. Saúda-se o orixá das folhas e das ervas gritando-se: “Ewé Ô!“ (“Oh! As folhas!”).
O arquétipo de Ossain é o das pessoas de caráter equilibrado, capazes de controlar seus sentimentos e emoções. Daquelas que não deixam suas simpatias e antipatias intervirem nas suas decisões ou influenciarem as suas opiniões sobre pessoas e acontecimentos. É o arquétipo dos indivíduos cuja extraordinária reserva de energia criadora e resistência passiva ajuda-os a atingir os objetivos que fixaram. Daqueles que não tem uma concepção estreita e um sentido convencional da moral e da justiça. Enfim, daquelas pessoas cujos julgamentos sobre os homens e as coisas são menos fundados sobre as noções de bem e de mal do que sobre as de eficiência.
Mitos de Ossãe[]
- Ossãe havia recebido de Olodumaré o segredo das ervas. Estas eram de sua propriedade e ele não as dava a ninguém, até o dia em que Xangô se queixou à sua mulher, Oiá-Iansã, senhora dos ventos, de que somente Ossãe conhecia o segredo de cada uma dessas folhas e que os outros deuses estavam no mundo sem possuir nenhuma planta. Oiá levantou suas saias e agitou-as impetuosamente. Um vento violento começou a soprar. Ossãe guardava o segredo das ervas numa cabaça pendurada num galho de árvore. Quando viu que o vento havia soltado a cabaça e que esta tinha se quebrado ao bater no chão, ele gritou: “Ewé O! Ewé O!” (“Oh! As folhas! Oh! As folhas!”), mas não pôde impedir que os deuses as pegassem e as repartissem entre si.
- Quando Orunmilá veio ao mundo, pediu um escravo para lavrar seu campo; compraram-lhe um no mercado; era Ossain. Na hora de começar seu trabalho, Ossain percebeu que ia cortar esta erva, pois é muito útil”. A segunda curava dores de cabeça. Recusou-se também a destruí-la. A terceira suprimia as cólicas.”Na verdade”, disse ele, não posso arrancar ervas tão necessárias.” Orunmilá, tomando conhecimento da conduta de seu escravo, demonstrou desejo de ver essas ervas, que ele se recusava a cortar e que tinha grande valor, pois contribuíam para manter o corpo em boa saúde. Decidiu, então, que Ossãe ficaria perto dele para explicar-lhe as virtudes das plantas, das folhas e das ervas, mantendo-o sempre ao seu lado na hora das consultas.
- Como sempre foi muito observador, Oxóssi quis aprender os mistérios e poderes das plantas com Ossãe, orixá dono dos poderes de cura das folhas, que certa vez o enfeitiçou, levando-o para o fundo da floresta a fim de ter companhia. Iemanjá, sua ciumenta mãe, enfurecendo-se, mandou que Ogum fosse buscar seu irmão na floresta e o arrancasse dos feitiços de Ossãe. Ogum assim o fez, mas como Oxóssi relutasse em voltar ao lar, e ao voltar desfeiteasse sua mãe, esta o proibiu de viver dentro da casa, deixando-o ao relento. Como havia prometido ao irmão ser sempre seu companheiro, Ogum foi viver também do lado de fora de casa. Oxóssi tornou-se o melhor dos caçadores e diz o mito que foi ele quem livrou Araketu, sua cidade, de um grande feitiço das perigosíssimas ajés (feiticeiras africanas) Iyami Oxorongá, que se transformam em pássaros e atacam as pessoas e cidades com doenças e miséria.
Ossãe na Umbanda[]
Na Umbanda, Ossãe é mais conhecido como Cabocla Ossanha, geralmente considerada da linha de Oxóssi. Possivelmente, seu sexo mudou para evitar as conotações homossexuais do mito que relaciona os dois orixás no Candomblé. É Oxóssi quem responde, na Umbanda, pelo conhecimento geral das folhas.
Referências[]
- Pierre Fatumbi Verger, Orixás: deuses iorubás na África e no Novo Mundo, São Paulo: Corrupio, 1981.
Veja tambem o vídeo da série Mãe de Santo episódio Ossãe: http://www.megaupload.com/?d=2SLECQGT