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Pancaia (do grego Παγχαία, Pankhaia, latim Panchaea), Panqueia, Pancaíte (do grego Pankhaiitis) ou Hiera (do grego Hierós, "sagrado") era uma ilha mítica do extremo sul, localizada em algum lugar nos oceanos para além da Arábia, habitada pelos pancaios.

História do mito[]

O primeiro a se referir à ilha foi Evêmero de Messina (final do século III a.C.), em um livro perdido que se chamou História Sagrada e foi citado por Diodoro da Sicília. Segundo o livro VI da Biblioteca deste último - também perdido, mas citado pelo comentarista cristão Eusébio de Cesareia, século IV d.C. -, a teria visitado ao viajar pelo Índico a serviço do rei Cassandro da Macedônia (ex-general de Alexandre, que reinou de 305 a.C. a 297 a.C.). Teria partido da Arábia Feliz (atual Iêmen) e viajado vários dias antes de chegar a Pancaia, onde teria aprendido sobre a "verdadeira história" dos deuses, que teriam sido poderosos soberanos que reinaram sobre grande parte da Terra antes da história conhecida e foram mais tarde divinizados. A ideia pode ter sido inspirada pela divinização de Alexandre Magno antes mesmo de sua morte, em 323 a.C.

O primeiro deles teria sido Urano, identificado com o céu por seu interesse nas estrelas, que com sua esposa Héstia teria tido quatro filhos: Titã, Cronos, Reia e Deméter. Cronos o sucedeu e, casado com Reia, teve Zeus, Hera e Posídon. Zeus teria sido o terceiro rei da dinastia e teve três esposas, Hera (com a qual gerou os Curetes), Deméter (com a qual foi pai de Perséfone) e Têmis (com a qual gerou Atena). Zeus teria ido a Babilônia, onde foi recebido por Belos, rei da Fenícia e depois a Pancaia, onde construiu um altar para Urano, fundador da dinastia. De lá teria passado à Síria e encontrado Cásio, rei da Síria naquele tempo, que deu seu nome ao monte Cásio. Depois teria conquistado a Cilícia, governada por Kilix, antes de visitar muitas outras nações, que mais tarde o honraram como um deus.

Além de Diodoro, também Virgílio (século I a.C.), Ovídio e Claudiano (século I d.C.) mencionaram Pancaia como uma terra rica em incenso, bem como muitos escritores de séculos posteriores, inclusive Luís de Camões, no canto II dos Lusíadas:

Aqui os dous companheiros, conduzidos
Onde com este engano Baco estava,
Põem em terra os giolhos, e os sentidos
Naquele Deus que o Mundo governava.
Os cheiros excelentes, produzidos
Na Pancaia odorífera, queimava
O Tioneu, e assi por derradeiro
O falso Deus adora o verdadeiro.

A descrição um tanto utópica de Pancaia pode ter sido influenciada pela Atlântida de Platão e ao mesmo tempo, na sua organização em castas e nos seus aspectos comunistas, pela República do mesmo autor. A Pancaia pode. por sua vez, ter influenciado a Utopia de Thomas More e a Cidade do Sol de Tomaso Campanella.

A ilha foi provavelmente inventada por Evêmero, mas houve, em tempos modernos, tentativas de identificá-la com terras reais, inclusive Madagáscar, parte do Iêmen, uma das ilhas do delta do Danúbio e, mais recentemente (pelo tanzaniano Felix A. Chami, 2002) com a costa leste da África, nas atuais Somália e Tanzânia, o Punt dos egípcios.

Geografia[]

Segundo o livro V da Biblioteca de Diodoro da Sicília (século I a.C.), que parecia basear sua descrição em Evêmero, Pancaia não tinha muitas das árvores frutíferas usuais, mas era rica em incenso e mirra, exportados para os árabes, e seus habitantes colhiam a jujuba (similar à açofeifa de Portugal e ao juá do Brasil), da qual faziam comida, bebida e remédio para disenteria. A ilha tinha ouro, prata, cobre, estanho e ferro em abundância, mas era proibido levar os metais para fora da ilha.

Como o solo da ilha era sagrado, era proibido enterrar ali os mortos, que eram levados para uma ilha vizinha, a sete estádios de distância (como se deu com a ilha de Delos, no Egeu, durante algum tempo). De uma outra ilha, distante trinta estádios de Hiera, seria possível divisar a Índia à distância, parcialmente oculta por brumas.

Numa planície coberta de densa floresta de ciprestes, plátanos, loureiros e murtas, a sessenta estádios (11 km) de Pânara, a capital, ficava o templo de Zeus Trifílio, admirado por sua beleza, antiguidade e localização favorável. Os sacerdotes moravam em torno do templo, que tinha dois pletros (60 m) de comprimento e tinha grossas colunas, relevos e estátuas dos deuses. Uma avenida de um pletro (30 m) de largura e quatro estádios (740 m) de comprimento, ladeada de vasos de bronze sobre suportes quadrados, levava do templo a uma nascente, cujas águas turbulentas eram chamadas "Água do Sol". A fonte era cercada de um muro de pedra com quatro estádios de cada lado e só os sacerdotes podiam entrar nesse recinto. Dela nascia um rio navegável que irrigava a planície, na qual também havia palmeiras, amendoeiras e vinhas.

As entradas dos templos eram trabalhadas em ouro, prata, marfim e madeiras cítricas. O leito do deus, com seis cúbitos de comprimento e quatro de largura, é todo de ouro e tem no centro uma grande estela de ouro com hieróglifos que descrevem os feitos de Urano e Zeus, aos quais Hermes acrescentou as de Ártemis e Apolo. A mesa do deus, a seu lado, é semelhante em tamanho e valor.

A planície em torno do templo era considerada sagrada numa distância de até 200 estádios (37 km) e as receitas dela derivadas eram usadas para custear os sacrifícios aos deuses. Para além da planície, havia uma elevada montanha também consagrada aos deuses, chamada "Trono de Urano" ou "Olimpo Trifílio", onde os sacerdotes celebravam anualmente um sacrifício solene. Os sacerdotes eram proibidos de deixar a terra sagrada e se qualquer deles fosse encontrado fora dela, qualquer um estaria autorizado a matá-lo.

Segundo o mito evemerista narrado por Diodoro, Urano, quando foi rei da terra habitada, gostava de permanecer nessa montanha, de onde observava os céus e os astros. O nome de "Olimpo Trifílio" seria derivado das três tribos que viviam a seu redor: pancaios, oceanites e doianos, estes mais tarde expulsos por Amon (deus egípcio identificado pelos gregos com Zeus), que arrasou suas duas cidades, Doia e Asterúsia.

Para além da montanha e no resto da terra de Pancaia, viviam elefantes, leões, leopardos e gazelas. Havia três outras cidades notáveis, Hirácia (Hyrakia), Dális e Oceânis.

Governo e Costumes[]

A capital da ilha chamava-se Pânara, e seus habitantes eram chamados "devotos de Zeus Trifílio ('das três tribos')". Era governada por três magistrados eleitos anualmente pelo povo, que decidiam sobre todos os assuntos menos sobre a pena capital, reservada aos sacerdotes.

Os autóctones da ilha, "brotados do próprio solo" eram chamados pancaios e os estrangeiros residentes incluiam oceanitas, indianos, citas e cretenses. Seu povo era guerreiro e usava carruagens à moda antiga. Dividia-se em três castas: a primeira incluía sacerdotes e artesãos, a segunda os lavradores e a terceira os soldados e pastores.

Os sacerdotes eram líderes da comunidade, decidiam disputas legais e possuíam a autoridade final. Os lavradores traziam os frutos da terra para um depósito comunitário e os dez que praticavam o melhor cultivo, no julgamento dos sacerdotes, eram especialmente recompensados na repartição da produção, para estimular os restantes. Da mesma maneira, os pastores traziam os animais ao tesouro do Estado. As casas e jardins eram propriedade privada, mas toda a produção era tomada pelos sacerdotes, que a dividiam em partes equitativas entre o povo, mas reservavam para si uma porção dupla.

Os soldados recebiam pagamento e protegiam a terra por meio de fortes e postos distribuídos a distâncias regulares, pois parte do país era infestada por bandos de salteadores que ameaçavam os lavradores.

As roupas eram feitas de lã das ovelhas locais, que era particularmente macia, e tanto homens quanto mulheres usavam colares, braceletes e brincos de ouro, à maneira dos persas. Ambos os sexos usavam o mesmo tipo de calçados, de cores mais variadas que o usual. Os sacerdotes se vestiam de maneira particularmente luxuosa e refinada.

Segundo o mito (evemerista) narrado pelos sacerdotes, os deuses surgiram em Creta e foram conduzidos por Zeus a Pancaia quando este vivia entre os humanos e era rei da terra habitada. A prova disso seria sua língua, que dava nomes cretenses à maioria das coisas e inscrições deixadas por Zeus quando fundou o Templo. O parentesco que têm com os cretenses e a amizade que sentem por eles são tradições que receberam dos antepassados.

Referências[]

  • Theoi: Panchaea, Island of the South [1]
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