O papa-figo é um mito urbano que ocorre em todo o Brasil. Seu nome é a contração de papa-fígado, sua principal característica.
Em geral, é descrito, como um homem idoso, sujo e com o corpo coberto de chagas. Pode, também, ser alto, magro, pálido e com a barba por fazer. Às vezes, carrega um saco. Costuma andar pelas ruas no final da tarde, durante o crepúsculo, à procura de crianças desacompanhadas, atraindo-as com o intuito de raptá-las, extraindo-lhes, a seguir, o fígado.
Ao lado do negro velho e do homem do saco, integra o ciclo do pavor infantil. Segundo versão paraibana registrada por Ademar Vidal (Lendas e superstições), a fim de não cometer injustiças, o papa-figo restrinje sua caça apenas aos meninos mal-comportados, desobedientes, teimosos ou chorões.
Em tempos antigos, acreditava-se que a lepra era uma doença de pele causada pelo mau funcionamento do fígado, órgão que, diziam, era o produtor do sangue. A cura estaria no consumo do órgão sadio. Mas somente o fígado infantil teria pureza e força suficientes para aliviar o sofrimento dos hansenianos. E sempre haveria alguém disposto a pagar qualquer preço por tão poderoso e raro lenitivo. O papa-figo era, portanto, em algumas versões, o próprio doente em busca de cura ou, outras vezes, o encarregado de conseguir a mercadoria para tal tipo de comércio.
Na interpretação de Mário Corso, em Monstruário (p.140), "de certa forma, hoje estamos ressucitando o papa-figo na figura do sequestrador de crianças para transplante de órgãos. A idéia é a mesma: nossas crianças são vítimas de ladrões de órgãos. Embora a maldade humana pareça não ter limites, desse fato só temos por enquanto suspeitas. Assim nascem e se conservam os monstros míticos, vivendo nessa fronteira difusa entre o fato e a fantasia".
Referências[]
https://orbeproducoes.com.br/lendas/lendas.php?c=7&p=1
- Alceu Maynard Araújo. Folclore nacional. São Paulo, Edições Melhoramentos, 1964, v.1, p.424
- Luís da Câmara Cascudo. Dicionário do folclore brasileiro. Rio de Janeiro, Instituto Nacional do Livro, 1954
- Luís da Câmara Cascudo. Geografia dos mitos brasileiros. 2ª ed. São Paulo, Global Editora, 2002, p.239-243, 383-384
- Mário Corso. Monstruário; inventário de entidades imaginárias e de mitos brasileiros. 2ª ed. Porto Alegre, Tomo Editorial, 2004, p.139-140
- Gilberto Freire. Assombrações do Recife velho; algumas notas históricas e outras tantas folclóricas em torno do sobrenatural no passado recifense. 5ª ed. Rio de Janeiro, Topbooks, 2000, p.97-98
- Gilberto Freire. Casa grande e senzala. Rio de Janeiro, 1933, p.368
- Ademar Vidal. Lendas e superstições; contos populares brasileiros. Rio de Janeiro, Empresa Gráfica O Cruzeiro, 1950, p.125-126 [1]
Ligações externas[]
- O Recife Assombrado: Causos do papa-figo [2]