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Queroquero

Quero-quero (Vanellus chilensis)

O quero-quero (Vanellus chilensis) -- também conhecido por téu-téu, terém-terém, tero-tero, gaivota-preta, chiqueiro e espanta-boiada -- é uma ave da ordem dos Ciconiiformes, da família dos Charadriidae. Os indígenas o chamavam guigrateutéu ou guira-téu-téu (guirá, em tupi: ave; téu-téu é a onomatopéia de seu canto).

É uma ave típica da América do Sul, sendo encontrada desde a Argentina e leste da Bolívia até a margem direita do baixo Amazonas e principalmente no Rio Grande do Sul, no Brasil. Habita as grandes campinas úmidas e os espraiados dos rios e lagoas. Em Portugal, é chamado abibe-do-sul. Em castelhano é conhecido por tero común e em inglês, Southern Lapwing.

Mede aproximadamente 37 cm de altura e pesa menos que 300 gramas. Sua plumagem possui, em geral, tonalidade cinza-claro, com ornatos pretos na cabeça, peito e cauda. A barriga é branca e as asas têm penas verde-metálicas. Apresenta um penacho na região posterior da cabeça; o bico, os olhos e as pernas são avermelhados e tem um par de esporões ósseos de 1 cm no encontro das asas.

No folclore brasileiro, o quero-quero está presente em todas as regiões, através de histórias, cantos e tradições.

Teon, em tupi, significa morte. Segundo o padre Fernão Cardim, em Tratado da terra e gente do Brasil, citado no Dicionário do folclore brasileiro, de Luís da Câmara Cascudo: "Guigratéutéu, isto é, pássaro que tem acidentes de morte, e que morre e torna a viver (...) e são tão grandes estes acidentes que muitas vezes os acham os índios pelas praias, os tomam nas mãos e, cuidando que de todo estão mortos, os botam por aí, e eles, em caindo, se alevantam e se vão embora".

Uma lenda de fundo religioso -- registrada por Corina Ruiz, em Didática do folclore -- explica a razão de seu canto insistente e irritante.

"Fugindo de Herodes, que determinara a matança de todas as crianças recém-nascidas, a Santa Família partiu em fuga para o Egito. Para não ser vista pelos soldados perseguidores, viajava à noite e se escondia de dia. Na longa caminhada noturna, era necessário que tudo se fizesse no mais completo silêncio. Silêncio esse, respeitado por todos os animais, encontrados pelo caminho. Era como se estivessem eles obedecendo a palavra de Deus, na proteção de Jesus, Maria e José.

Todos menos um: o implicante quero-quero. Este não parava de falar, e por sua desobediência, recebeu como castigo a tagarelice eterna, não parando mais de gritar, inclusive alertando os caçadores quanto à sua presença e correndo o risco de ser caçado."

Versão Alternativa[]

O Q UERO-Q UERO Pássaro típico do Rio Grande do Sul, o quero-quero desfruta da mais ampla simpatia e consideração dos gaúchos, apesar do papel ingrato que lhe coube na lenda que explica a razão de possuir este nome. Diz-se, pois, que, durante a fuga da Sagrada Família do Egito, José e Maria foram buscar refúgio num oásis, em pleno deserto. Enquanto descansava, Maria pediu aos pássaros do oásis que fizessem silêncio, a fim de não atraírem a atenção dos seus perseguidores. – Silêncio, avezinhas! – disse ela, com o dedo nos lábios. Maria tinha nos braços o Divino Bebê, enquanto seu esposo, José, vigiava tudo com olhos de águia. Diante do seu divino pedido, todas as aves foram silenciando o seu canto, uma a uma, até que só restou o canto ensurdecedor de uma única ave. – Por favor, avezinha! – insistiu Maria. – Quer que os soldados de Herodes nos encontrem? – Quero! Quero! – continuou a ave a berrar, a plenos pulmões. José avistou, então, um grupo de soldados avançando na sua direção e deu um jeito de esconder Maria e o bebê atrás dumas folhagens. Os soldados de Herodes chegaram e começaram a investigar o lugar. Porém, como estavam exaustos demais, preferiram parar as buscas e banhar-se nas águas de um pequeno córrego que passava pelo oásis. Enquanto isso, o pássaro não dava trégua, um segundo, no seu canto. Organizou-se uma caçada à ave, mas ninguém conseguiu espantá-la. Por fim, tanto ela incomodou que os soldados resolveram partir. Quando eles desapareceram, a Virgem lançou, então, esta maldição ao pássaro berrador: – Por quase teres provocado a morte do Divino Redentor, o teu canto será, para sempre, o mesmo! E desde então a ave teimosa não faz outra coisa senão repetir o seu perpétuo refrão: – Quero-quero! Quero-quero!

Referências[]

  1. Luís da Câmara Cascudo. Dicionário do folclore brasileiro. Rio de Janeiro, Instituto Nacional do Livro, 1954
  2. Corina Maria Peixoto Ruiz. Didática do folclore. Curitiba, Editora Arco-Íris, 1995
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