Roberto do Diabo é um personagem que pertece a alguns cordeis e demais histórias presente no imaginacio popular do Brasil, ele possui origem europeia. Ele pertence ao ciclo de cordel denominado “morto agradecido”. Câmara Cascudo inclui este romance entre os “Cinco Livros do Povo”, com “Donzela Teodora”, “Imperatriz Porcina”, “João de Calais” e “Princesa do Megalona”.
Lenda[]
Na província da Normandia Ela era um moço solteiro não pensava em casamento não era por egoista nem por ser rico avarento era porque no futuro nunca pensou um momento. Disse um vassalo ao duque: sei que é bom ser solteiro o homem que não se casa vai caminhar sem roteiro veja bem que seu roteiro veja bem que seu ducado mais tarde precisa herdeiro. O duque ouvindo estas frases mudou logo o pensamento ficou crendo no vassalo naquele mesmo momento e disse que nas mãos dele estava o seu casamento. de toda aquela cidade. na remota antiguidade viveu o duque Alberto cheio de fraternidade era ele o soberano Seguiu então o vassalo foi dar parte na cidade aquelas pessoas doutas de alta capacidade que o duque prometia fazer a sua vontade. Ficaram todos contentes foram então consultar qual era a moça capaz daquele duque casar depois da consulta feita poderam então acertar. A duqueza de Borgonha foi essa a moça escolhida eles seguiram com medo desta jornada perdida mas ela mandou o sim da proposta referida. Eu poucos dias depois tiveram então de casar foi uma festa tão grande que nem se pode contar eu não conto neste livro pra ele não aumentar. Depois dos jovens casados ficou tudo satisfeito porque mais tarde teriam quem punisse o seu direito o ducado tinha herdeiro e o povo tinha conceito. Desta vez cairam eles num dos maiores enganos porque o diabo impera em todos seres humanos pois vieram ter família já com dezessete anos. Com seis anos de casados estando ele no jardim disse a duqueza ao marido: um de nós é o ruim se acaso somos perfeitos porque vivemos assim? O duque disse a ela: não posso contradizer se eu casasse com outra nada havia de acontecer quanto nada uns 5 filhos eu havia de os ter. Disse ela ao marido: eu tenho cá para mim que se casasse com outro não me sucedia assim embora que o senhor diga que meu pensamento é ruim. — Senhora, o que me aflige no momento derradeiro é nós não termos um filho que seja o nosso herdeiro eu morro, fica o ducado nas mãos de um estrangeiro. Estas palavras pra ela causou tanta apreenção o seu desgosto foi tanto mudou até de feição ficou quase alucinada na mesma ocasião. O duque então conheceu que a mulher endoidecia saiu com ela a passeio para ver se a distraía quanto mais ele agradava mais ela se consumia. No outro dia a duqueza amanheceu melhorada chamou o marido e disse: não tenho culpa de nada porque se fosse por mim talvez não tivesse casada. — Toda familiaridade é Deus quem a determina eu por não ter concebido não vou queixar-me da sina que tudo isso depende da Providência Divina. Tristonha e amargurada vivia a jovem duqueza junto com o seu marido na mais profunda tristeza porque não tinha um filho que herdasse sua riqueza. Disse a duqueza ao marido conversando a este fim: se eu conceber, um filho não quero ele pra mim o diabo que tome conta já que eu sou tão ruim! — Ao diabo ofereço tudo que de mim nascer não importa que conceba ou deixe de conceber um ente assim como eu não presta nem pra morrer Quando ela terminou aquele assunto assombroso o diabo que na matéria se julgava prodigioso fez a mulher ficar grávida de um modo misterioso. O diabo mostrou que era infame e tentador naquela concepção foi uma cena de horror foram 9 meses de grávida foram 9 meses de dor. Durante a gravidez perdeu da vida a esperança porque já não suportava os abalos da criança entretanto era o diabo exercendo tal vingança. Quando aproximou-se a hora de nascer esse inocente veio um grande nevoeiro de lado do Ocidente que acinzentou o espaço e escureceu de repente. Eram dez horas do dia quanto o menino nasceu o firmamento agitou-se o oceano gemeu sentindo o caso estupendo que no mundo aconteceu. Corria o povo na rua com medo do furacão vendo os prédios abalados ao retumbar do trovão e os coriscos fuzilando do espaço até o chão. Pediam misericórdia por tanta temeridade corria um fogo rasteiro pelas ruas da cidade queimando quem encontrava sem ter dó nem piedade. Viu-se o céu aglomerado e o mar dando bramido todo povo procurava saber o que tinha sido depois vagou a notícia que Roberto tinha nascido. Foi muito grande a aflição que esse duque se viu porque o paláco dele onde a duqueza pariu sendo este o mais seguro foi quem primeiro caiu. Quando amanheceu o dia todo povo da cidade seguiu uns após outros com honra e capacidade dar parabéns ao duque por tanta felicidade O duque por sua vez mostrava se consolado porém achando seu filho muito mal assinalado pensou que fosse um castigo que Deus tivesse mandado. Entregaram esse menino a três amas pra criar todas três se ocupavam somente em dar de mamar com 2 dias enfraqueceram não puderam sustentar. Com 3 dias de nascido a todos deu o que fazer chupava os peitos das amas que só faltava morrer pegaram carne e farinha deram pra ele comer. Com cinco meses depois ele sabia falar andava e corria tudo sem ninguém lhe ensinar toda brincadeira dele só era pra judiar. Rapidamente cresceu mesmo nessa pouca idade se avultava o tamanho dobrava a perversidade fazer mal a todo mundo era o que tinha vontade. Quando tinha sete anos não respeitava ninguém arrombava a casa alheia não perguntava a quem queimava o que tinha dentro e achava que estava bem. Quando encontrava 1 menino mesmo sendo camarada avançava em cima dele dava tanta bofetada quebrava braços e pernas dizendo: é por caçoada. Todos os pais de família rsidentes no ducado recomendavam aos filhos: andem com muito cuidado só podem sair na rua Roberto estando amarrado. (9) Juntaram-se trinta rapazes uns de faca, outros de espada foram lutar com Roberto porém não serviu de nada destes o que não morreu saiu de perna quebrada. Disseram os que escaparam: aquele ninguém dá cabo! toda pessoa que via esse satanás de rabo dizia aos outros: fujamos lá vem Roberto do Diabo! Já era tão conhecido esse monstro traiçoeiro vagava a trêda notícia no continente estrangeiro repercutindo o estrondo nas áreas do mundo inteiro. Já o duque envergonhado com o tal procedimento vendo Roberto assassino malvado, sanguinolento julgava que a doutrina lhe mudasse o pensamento. Mandou chamar logo 1 mestre homem de muita instrução cortês, honesto e honrado como fosse, um cortezão entregou Roberto a ele na mesma ocasão. O duque que já vivia capaz de perder o tino disse ao mestre em voz alta: o que fizer eu assino doravante o seu trabalho é ensinar este menino. Pegou o mestre ensinando com muita calma e cuidado porém Roberto do Diabo insolente e desgraçado tudo quanto ele aprendia só era pra ser malvado. Um dia saiu na rua fazendo muita insolência matando, quebrando perna sem doer-lhe a consciência então foram ao mestre dele pedir-lhe a providência. O mestre repeliu ele prometendo castigar Roberto disse ao mestre: acho melhor não falar no mundo não nasceu homem que possa me dominar. O mestre ainda falou pra ver se ele temia porém Roberto zangou-se partiu como tanta ousadia deu-lhe quatro punhaladas botou-o na campa fria. Toda cidade agitou-se de ver tanta tirania o duque por sua vez quase morre de agonia vendo seu filho Roberto as desgraças que fazia. Assim foi ele crescendo até que ficou rapaz seu diabólico gênio aumentava cada vez mais quem visse ele julgava ser filho de satanás. O duque já não sabia o que devia fazer para seu filho Roberto a mais ninguém ofender chamou-o à sua presença para dar-lhe um parecer. Quando Roberto chegou o duque lhe disse assim: meu filho, largue esta vida deixe de ser tão ruim a consciência me diz que será triste teu fim. Disse Roberto a seu pai: não quero seu parecer o que tenho no pensamento o senhor pode saber inda não fiz nem um quarto do que pretendo fazer. O duque já censurado quase no mundo inteiro não só no país natal como pelo estrangeiro deliberou a fazer de Roberto um cavalheiro. Julgando ele que o filho porque tinha pouca idade e depois de colocado na alta sociedade ele ficasse emendado de tanta perversidade. Quando foi no outro dia mandou um encarregado avisar todos os príncipes residentes no ducado pra se acharem em palácio naquele dia marcado. Juntaram-se os príncipes todos nacional e estrangeiro mandaram chamar Roberto o bandido cangaceiro deram a ele um bom cavalo gordo, possante e ligeiro. Deram-lhe mais uma espada uma lança e um facão ele depois de montado já parecia um dragão os olhos tão penetrantes como a chama dum vulcão. Quando começou as juntas Roberto saiu primeiro meteu a lança no peito de um príncipe estrangeiro este morreu de repente sendo o melhor cavalheiro. Quando se deu essa morte o povo se reminou contra Roberto do Diabo tudo ali se revoltou Roberto matou quatorze desses nenhum escapou. Levantou-se contra ele todo povo da cidade ele cutelava o povo sem ter dó nem piedade horrorizava quem visse por tanta barbaridade. O duque se horrorizava vendo o povo se acabar Roberto matando tudo ninguém podia o matar ficou sozinho na praça sem ter mais com quem brigar. Roberto se viu sozinho toda cidade fechada não foi mais para o palácio seguindo por uma estrada juntando outros companheiros de vida bem depravada. Isso ele encontrou logo que gente ruim não faltava saiu por toda Normandia roubando o que encontrava casada, moça e viúva tudo ele desonrava. Quando via uma choupana se alguém quisesse fugir ele botava-lhe fogo sem o dono pressentir e mandava cercar a casa para o povo não sair. O povo fazia queixas ao duque e a duqueza vendo Roberto do Diabo fazer tanta malvadeza sem haver quem desse jeito abrandar-lhe a natureza. O duque com essas queixas tinha tanta compaixão de ver seu povo sofrendo aquela conspiração vendo a hora que Roberto fazia-lhe uma traição. Viviam os pais de Roberto todo dia em devoção entregando o filho a Deus na mesa da comunhão pra ver se ele um dia mudava a má condição. O duque tinha um amigo que era de confiança foi um dia e disse a ele eu tive uma lembrança mandando chamar Roberto eu creio que ele amansa É exato que Roberto é malvado e desordeiro mas se ele conhecesse a vida dum cavalheiro eu creio que ele ficava mais manso que um cordeiro. O duque então animou-se e ficou muito contente participou a duqueza disse ela: felizmente talvez que por este meio nosso filho seja gente. Quando foi no outro dia o duque tinha juntado sessenta homens dispostos tendo um encarregado e foram atrás de Roberto dar-lhe o seguinte recado. Com dois dias de viagem eles poderam saber que Roberto estava no monte era custoso de o ver sendo uma viagem longa muito arriscado a morrer. No mesmo dia encontrou por um enorme roteiro trinta homens bem armados sendo chefe um cangaceiro antes de falar com eles ameaçou-os primeiro. Aí travou-se uma luta depois de muitos abatidos os mensageiros do duque se achavam quase vencidos gritaram pedindo paz afinal foram atendidos. Lhes disse o encarregado o duque foi quem mandou que eu viesse ao monte como de fato, aqui estou para falar com Roberto se me consente, eu vou. Lhe disse o adversário: nos desculpe, meu rapaz pessoas do duque Alberto mal aqui ninguém lhes faz se eu soubesse há mais tempo vocês passavam em paz. Daí seguiram viagem cortando aquele deserto e com três dias depois já se achavam mais perto até que depois chegaram aonde estava Roberto. Roberto vendo esse povo ficou muito admirado disseram logo a Roberto que o duque tinha mandado saber de sua saúde e dar-lhe mais um recado. — Seu pai mandou lhe dizer que o senhor fosse pra lá nós todos por uma boca aconselhamos que vá porque não sendo assim creio que lhe surte má. — O duque já está cansado de tanto lhe aconselhar o senhor nunca aceitou mas hoje tem que aceitar se não quiser ir por gosto eu mando lhe castigar. Roberto ouvindo esta voz ficou como um cão danado mordia os beiços e a língua já de semblante mudado depois gritou aos capangas: quero este povo amarrado! Os capangas ouvindo o grito de Roberto, seu patrão partiram em cima do povo ferozes como um leão de um a um amarraram de pé, cabeça e mão. Depois de tudo já preso pegou Roberto a pensar se deixava eles vivos ou se convinha matar qual era a melhor maneira que tinha pra se vingar. Pegou um grande punhal de ponta bem aguçada arrancou os olhos de todos parece que não fez nada e mandou-os levar ao duque em paga da embaixada. Roberto soltou os cegos e disse que fossem embora eles temendo a morte não tiveram mais demora guiava um cego outro cego todos por ali afora. Depois que os cegos saíram Roberto ficou zangado rogando praga a si mesmo como um endiabrado dizendo que o seu pai era um monstro condenado. Quando chegaram em palácio tudo de olho arrancado o duque ficou suspenso no meio do salão pasmado a duqueza estava perto caiu para outro lado. Quando voltaram a si ficaram tão pensativos mandaram chamar o médico pra fazer os curativos dando mil graças a Deus por terem ficados vivos. Ficaram 60 cegos o duque era quem sustentava calçados, roupas e comida tudo era ele quem dava uma criada e dinheiro pra eles nunca faltava. O duque pensava tanto só faltava enlouquecer desde já resignado — Sucede o que suceder Deus tome conta de tudo não tenho mais que fazer. Ficou Roberto no monte com a corja de ladrão roubando o que encontrava por vila e povoação abrindo pessoas vivas e arrancando o coração. Onde Roberto passava ninguém podia passar porque uma ave agoureira não deixava de cantar chamando de hora em hora o diabo pra lhe ajudar. A província da Normandia estava quase um deserto o povo se retirando os que moravam mais perto porque temiam passar onde habitava Roberto. Roberto que era um monstro de um gênio descomunal se apartou dos companheiros naquele bosque infernal seguiu pela mata à dentro buscando a quem fazer mal. Encontrou sete ermitões que já vinham de arribada sabendo a notícia dele iam deixando a morada caíram sempre nas mãos daquela fera assanhada. Roberto quando viu eles pegou a ranger os dentes mordia os beiços e a língua quase como uma serpente puxou por uma espada e chegou-se mais pra frente. Todos seis se ajoelharam pedindo por caridade: senhor Roberto não nos mate por um Deus de piedade peço pelas três pessoas da Santíssima Trindade! Roberto que não sabia o que era compaixão só conhecia os caprichos de seu brutal coração cortou dos sete a cabeça deixou-os prostrados no chão. Daí seguiu a jornada procurando a quem matar adiante ouviu uma voz brandamente lhe falar disse três vêzes: Roberto Deus há de te castigar! Respondeu Roberto a voz: te arma vamos lutar pois eu em cima do mundo não achei com quem brigar! Disse-lhe a voz outra vez: Deus há de te castigar! Saiu Roberto a procura para ver se encontrava se aquilo era uma voz ou pessoa que falava ele pouco mais ou menos deste mistério cismava. Essa cisma para ele causou-lhe grande pavor poucos minutos depois foi encontrando um pastor assim que viu disse logo: de mim não tenha temor. Ficou Roberto tocado desde daquele momento do poder do Espírito Santo e do Divino Sacramento vivendo com Deus na boca e Jesus no pensamento. Roberto aí conheceu que não estava direito voltou pra casa dos pais pra ver se lhe davam um jeito pedindo perdão ao povo de tudo que tinha feito. Quando o povo viu Roberto entrar na cidade armado com a espada na mão vinha todo ensaguentado quem não entrou nas casas subiu-se pelo telhado. Roberto foi ao palácio mas o duque não estava e a duqueza trancou-se conhecendo quem falava alguém que ficou na rua corria ou se trancava. Roberto bateu na porta a todos tratando bem — Minha mãe, abra esta porta pelo amor que me tem em nome de Deus eu juro não fazer mal a ninguém! A duqueza abriu a porta porém um pouco cismada porque ela há muitos anos que vivia conspirada e mesmo naquele monstro não confiava mais nada. A duqueza viu Roberto cair em seus pés chorando ela tomou-o nos braços diz ele se lastimando: bote-me a sua bênção e continuou soluçando. Ela quando viu o filho tornar-se tão paciente ficou muito satisfeita regosijada e contente e perguntou o motivo dele ser tão insolente Disse Roberto à duqueza: por esta mesma razão é que estou em vossos pés pedindo o vosso perdão quero saber o que houve na minha concepção — A senhora não se lembra quando a mim concebeu se rogou alguma praga ou se alguém ofendeu? Me seja mais positiva diga, o que foi que se deu? — Se eu tivesse a certeza que já nasci praguejado pela senhora ou o duque já eu me tinha emendado talvez eu nunca chegasse ao ponto que tenho chegado! A duqueza ouvindo isso caiu prostrada no chão dizendo a ele chorando: filho, tens toda razão eu entreguei-te ao diabo na tua concepção. Roberto deu-lhe uma síncope ficou sem poder falar amortecido no chão isto somente em pensar o que fazia no mundo para Deus lhe perdoar. Quando ele voltou a si a mais ninguém conhecia estava tão atribulado em vez de falar tremia todo banhado em lágrimas por esta forma dizia: — Oh! Deus que hora minguada da minha concepção antes de eu vir ao mundo vivia na maldição foi minha mãe que atirou-me na vala da perdição! — Ah! maldito tentador por ti tornei-me assassino vivi sobre teus enganos desde o tempo de menino praticaste a covardia no gênero feminino! — Eu tenho sido guiado por teu caminho infeliz do meu viver diabólico todo mundo contradiz pedem justiça a meu Deus pelos crimes que já fiz! — Mas vós, Senhor, perdoastes aquele ente imundo que vos levou ao suplício naquele abismo profundo perdoa também Roberto maior pecador do mundo! Roberto dizia isso contrito no coração nos pés da mãe ajoelhou-se chorando pediu perdão pediu que dissesse ao duque que lhe botasse a benção. Daí Roberto seguiu para sua residência onde estava os ladrões vivendo de insolência porém quando viram ele renderam-lhe obediência. Roberto saudou a todos dizendo a um homicida: não se faz mais insolência quero esta ordem mantida hoje pretendo mudar este sistema de vida. Aí levantou-se tudo cada qual com mais façanha foram dizendo a Roberto: se entrar em luta não ganha assim para que nos trouxe aqui pra esta montanha? Disse Roberto a eles: a mim ninguém ameaça estou da parte de Deus porém não temo a desgraça! Aí travou-se uma luta cobriu-se o mundo em fumaça. Com uma hora de luta estava tudo esbandalhado Roberto no meio deles parecia um cão danado depois de ver todos mortos ficou então descansado. Daí seguiu para Roma por um caminho estreito dormiu na casa dum primo porém não teve conceito tudo isso em recompensa dos males que tinha feito. Aí não quiseram vê-lo fecharam logo o portão ele foi para a igreja rezando uma oração mas ninguém acreditava que fosse de coração Roberto foi a um monge para pedir confissão esse teve tanto medo valeu-se do sacristão afinal ambos correram não lhe prestaram atenção. — Ó meu Deus, que sina a minha valei-me nesta aflição! Tenho vivido no mundo nas trevas da maldição hoje não acho quem queira ouvir-me de confissão! Quando o monge assim ouviu Roberto se lastimar disse a ele: vá pra Roma procure se confessar porque o Sumo Pontífice dá jeito a lhe perdoar. Roberto seguiu pra Roma só se ocupava em rezar lá ninguém queria vê-lo não teve onde se arranchar e os guardas do Pontífice não lhe deixaram entrar. Quando foi no outro dia voltou para a devoção meteu-se por entre o povo levado muito empurrão desta vez chegou ao Papa e lhe pediu confissão. — Quem és tu? pergunta o Papa quando ele se ajoelhou Roberto lhe respondeu: não posso dizer quem sou sou o ente mais imundo que a natureza criou. — Serás Roberto do Diabo? (o Papa lhe disse assim) que todo mundo reclama por ele ser tão ruim? Todo povo é contra ele ninguém o pode dar fim? Disse Roberto em soluços sou eu o monstro tirano o meu nome é Roberto do Diabo, por engano fui o parto mais sem sorte de todo genero humano. O Papa confessou ele na mesma ocasião depois mandou-o para o monte onde estava o ermitão porque ele era quem podia dar-lhe absolvição. Roberto chegou no monte ansioso procurava a casa do ermitão para ver se encontrava depois encontrou a casa onde o ermitão morava Quando Roberto viu ele caiu de joelhos no chão este saiu da morada pegou ele pela mão levou-o pra uma capela e mandou-o fazer oração. Roberto ficou orando e o ermitão voltou quando caiu a tardinha que Roberto terminou de fazer suas orações; quis voltar, não acertou. O ermitão nessa noite passou fazendo oração pedindo a Deus que fizesse a sua revelação dá penitência a Roberto e a sua absolvição. Às quatro da madrugada quando o ermitão dormia no silêncio matutino no amanhecer do dia desceu do céu uma voz por esta forma dizia: — Desperta, homem de Deus manda Roberto pra Roma se fingindo doido e mudo conservando este sintoma e os sobejos dos cachorros seja a comida que coma. Quando findou-se a conversa o ermitão despertou foi logo para a capela onde Roberto ficou para dar-lhe a penitência conforme Deus lhe mandou. Disse o ermitão a ele: Deus te mandou para Roma se fingindo doido e mudo conservando este sintoma e os sobejos dos cachorros seja a comida que coma. Ele ouviu a penitência e teve absolvição daí partiu para Roma por ordem do ermitão fazendo sua penitência contrito de coração. Entrou Roberto em Roma nesse miserável estado fazendo muitas misuras correndo pra todo lado seus olhos tão vacilantes como dum alucinado. Juntou-se em roda dele aquela rapaziada uns lhe voavam peteca outros lhe davam pancada Roberto agüentando tudo não podia fazer nada. Andava a plebe na rua toda numa multidão uns lhe puxavam os cabelos outros lhe davam empurrão outros cuspiam na cara e findavam em mangação. Vivia o pobre Roberto na maior da inclemência bebendo fel de amargura e durante a penitência foi ele o segundo Job relativo a paciência. Roberto viu-se com fome nada podia fazer entrou na casa do rei para dar-lhe a conhecer que estava necessitado com precisão de comer. Quando Roberto chegou na sala da refeição pegou com muitas misuras fazendo letras no chão o rei achando engraçado e prestando bem atenção. O rei estava jantando perto dele tinha um cão sendo este muito bravo ninguém lhe passava a mão só mesmo o imperador mas outra pessoa, não. O rei voou ao cachorro um osso muito carnudo Roberto foi ao cão como era doido e mudo tomou-lhe a carne da boca e comeu com osso e tudo. O cão nem se remexeu no lugar em que se achava o rei olhou pra Roberto vendo a fome que ele estava mandou preparar comida pra ver se ele aceitava. Roberto vendo a comida se pôs com muito gracejo se fazendo que não tinha daquilo o menor desejo porque se achava obrigado comer dos cães o sobejo. O rei por experiência inda sacudiu um pão para o cachorro comer Roberto foi com a mão tomou, comeu a metade e deu o resto ao cão. Esta vida de Roberto causava admiração ser amigo dum cachorro mais feroz que um leão dormindo e comendo juntos na mais perfeita união. O rei tinha um vassalo um almirante pagão era homem poderoso ao rei propôs questão era um esteio da pátria que presidia a nação. O vassalo era solteiro precisava de casar o rei que tinha uma filha era muda e singular foi pedida em casamento porém o rei não quis dar. O almirante zangou-se tratou de juntar gente formou uma grande esquadra foi ele mesmo na frente entrou nas terras do rei como um bandido insolante. O rei se vendo abatido ficou muito indignado mandou tomar as trincheiras nos limites do Estado pra reagir ao bandido aonde fosse encontrado. No outro dia bem cedo encontrou o inimigo com oito horas de luta o rei dizia consigo: se eu não me retirar creio que estou em perigo. Quando foi no outro dia o almirante atacou todo o exército do rei de um por um amarrou o rei também não foi preso porque ali não passou. Roberto ficava triste com as notícias que ouvia as derrotas da cidade que o almirante fazia sabendo que noutro tempo ele sozinho vencia. Roberto nesta aflição ouviu uma voz dizer: um cavalo e boas armas a ti hão de aparecer vai defender o teu rei que não merece morrer. Então Roberto animou-se e seguiu para o jardim lá encontrou um cavalo mais alvo do que marfim trazendo todo armamento sobre a capa do selim. O cavalo era encantado ali ninguém pressentiu nem quando ele chegou nem quando ele saiu a filha muda do rei foi a única que viu. Roberto vendo o cavalo ficou pasmo de alegria meteu se logo nas armas que o cavalo trazia da forma que ele ficou nem mesmo o rei conhecia. Seguiu logo à toda pressa pra onde estavam brigando todo o exército do rei já ia se retirando na hora desta aflição ía Roberto chegando. Roberto gritou dizendo: anima, rapaziada agora chegou um homem que nunca temeu a nada nunca ví ninguém valente no gume de minha espada! Entrou Roberto na luta como quem vinha danado com meia hora depois não tinha nenhum soldado o que não tinha morrido por si tinha arribado. O rei ganhou a vitória o almirante perdeu porque os soldados dele foi raro o que não morreu Roberto fez tudo isso depois desapareceu. Roberto chegou em casa entrou no seu aposento despediu-se do amigo e entregou-lhe o armamento aí sumiu-se o cavalo naquele mesmo momento. Disse o rei aos vassalos: eu o que hei de fazer pra pegar aquele homem que nos salvou de morrer? Embora que eu não pague quero ao menos conhecer. Disse o rei aos vassalos: eu tenho na minha mente que o mundo não cria mais outro homem tão valente como o do cavalo branco que defendeu minha gente. Nisto foi chegando a muda começou logo a contar que o louco era quem ía lá para os campos brigar disse o rei: é por aceno eu não posso acreditar. Mandaram chamar a dama que estava acostumada a conversar com a muda qualquer história passada a dama explicou tudo o rei não deu crença a nada. O rei tornou-se grosseiro para a muda e a dama dizendo: como um louco pode gozar essa fama? Quem come com os cachorros e faz do monturo cama? Dizia-o almirante: como é que fui vencido quase por um homem só já tinham os outros morrido? Brevemente irei ao campo porém eu vou bem munido. Tratou de juntar gente pra todo mundo saber com quem ele conversava só se vingava em dizer: agora só vou ao campo para matar ou morrer. Em poucos dias depois ele já tinha juntado vinte mil homens possantes tudo muito bem armado no dia que'entrou em Roma foi um serviço pesado. O rei sabendo a notícia seguiu para encontrá-lo com 6 mil homens a pés e outro tanto a cavalo procurando o inimigo pra quando o visse matá-lo. Tiveram o primeiro encontro na entrada da cidade o almirante que vinha ansioso de vontade de uma descarga que deu morreram mais da metade. O rei conhecendo a morte mandou tocar retirada o almirante era bruto não quis atender a nada chegaram mais para frente fizeram fogo à vanguarda. Nesta hora estava o louco muito triste e pensativo chegou o cavalo e disse: Roberto, sejas ativo vai defender o teu rei talvez não seja mais vivo. Não se sabe explicar Roberto como ficou botou as armas na cinta no cavalo se montou ligeiro como um relâmpago em dez minutos chegou. Aí debandou-se tudo até mesmo o almirante vendo que perdia a vida arribou no mesmo instante o rei foi dono do campo daquela data por diante. Aí todos se lembraram do que o rei disse primeiro que quando houvesse batalha segurassem o cavalheiro pra ver se recompensava aquele herói forasteiro. Juntou-se o resto do povo que do rei tinha ficado cercaram o cavalo branco que Roberto ía montado Roberto voou por cima foi cair no outro lado. Um dos vassalos do rei foi quem mais se interessou quando viu que não pegava com a lança lhe atirou porém a lança quebrou-se dentro o pedaço ficou. Eles apanharam a lança para ver se conferia com o outro pedacinho, que dentro da perna ía tomaram essa precaução para ver se descobria. Roberto seguiu pra casa vendo que estava ferido entregou o armamento ao seu cavalo querido esse desapareceu e por ninguém foi conhecido Roberto ficou puxando e com trabalho tirou o pedacinho da lança que na perna se enterrou debaixo de uma pedra foi ele mesmo e guardou. Tudo isso a muda viu quando Roberto chegou que o cavalo despediu-se e quando se retirou e o pedacinho da lança aonde ele botou. No mesmo dia juntou-se muita gente no reinado uns que vinham da batalha outros que tinham brigado contente pela vitória e triste por outro lado. Disse o rei em aita voz: o homem não se pegou? Eu de longe estava vendo o povo que o cercou não teve um dos senhores que visse onde ele passou? Então lhe disse um vassalo: eu vendo tudo perdido que não pegava o homem nem ele era conhecido atirei-lhe com a lança o homem ficou ferido. — A lança bateu na perna com muita força entrou o homem é tão ligeiro que até a lança quebrou um pedaço estou com ele e outro ele levou. O rei com estas palavras encontrou facilidade de mandar pegar os homens que houvessem na cidade examinar um por um pra conhecer a verdade. Assim mesmo concordaram mandaram logo pegar todos homens que haviam residentes no lugar examinaram um por um mas não poderam encontrar. Quando o rei desenganou-se que não lhe aparecia o distinto cavalheiro que sempre lhe defendia mandou fazer um edito e publicou no outro dia. Dizia assim o edito: "a todos faço ciente "apareça o cavalheiro "que defendeu minha gente "casará com minha filha "dou-lhe o trono de presente". O almirante que estava para se suicidar dizia consigo mesmo: vou hoje me apresentar a gente quando se arrisca é pra perder ou ganhar. Montou num cavalo branco que ele tinha comprado pegou um ferro de lança agudo e muito amolado enfiou na perna esquerda e seguiu com ele enfiado. Quando ele chegou na corte ao rei se apresentou o rei dizia consigo: como este homem escapou? O almirante tão cínico como quem nunca brigou. Lhe disse o almirante: vendo-me certificar segundo há um edito que ontem eu vi pregar que quem fosse o cavalheiro podia se apresentar. — Sou eu o tal cavalheiro agora vou vos provar de um ferimento que tenho que não pude me livrar o ferro quebrou-se dentro inda não pude tirar. Aí regassou a calça e o rei observou o pedacinho da lança que o almirante enfiou o rei de nada sabia seriamente acreditou. Então o rei perguntou-lhe: tu não eras meu rival? Como foste a meu favor naquela renha fatal? São estes um dos exemplos que nunca vi outro igual. — Eu fiz a comparação de fazer guerra ao senhor quando lhe via perdido ia ser a seu favor eu não posso fazer guerra onde deposito amor. O rei acreditou tudo no que lhe disse o pagão deu-lhe a filha em casamento contra a sua opinião porque ele era um crente de outra religião. Ficou o pagão na corte como uma mosca tonta olhava todos de banda dizendo ele: está na ponta! Porém a princesa muda dele não fazia conta. Trataram de arrumação a tudo deram andamento distribuíram cartões de alto merecimento de forma que só faltava o dia do casamento. Foi naquel santo dia que houve a revelação do Eterno para o anjo disse para o ermitão: vai avisar a Roberto que Deus manda-lhe o perdão. Seguiu logo o ermitão com a maior brevidade porém chegando na côrte achou em festividade a princesa ía casar bem contra sua vontade. O ermitão foi ao templo e o Pontífice também com dois ou três cardeais que ali sempre ele tem estando eles todos juntos é quando a princesa vem. Vinha muito acompanhada daquela alta nobreza ela fazia isso tudo obrigando a natureza quando ela entrou no templo foi usando de franqueza. Porém como Deus é justo não traz ninguém enganado mostrou ali um fenômeno que ficou tudo abismado fez essa muda falar que nunca tinha falado. Disse a muda a seu pai: o senhor vive enganado fazer com que eu me case com um homem falsificado covarde, corrupto e falso insolente e depravado. — Se eu casar-me com ele será horrendo o meu fim este nunca lhe ajudou como é que diz assim? Quem lhe ajudou na batalha foi o louco do jardim. — Sou a melhor testemunha porque a tudo assisti da janela do meu quarto todas as vêzes eu vi quando fui participar-lhe disse o senhor que menti. — O pedacinho da lança eu ví quando ele puxou posso ir agora mesmo mostrar onde ele botou; então seguiram com ela e o almirante arribou. Foi tudo para o jardim pra ver se a muda mentiu disse ela: tirem esta pedra aí todo mundo viu o pedacinho da lança e com o outro conferiu. Naquele grande cortejo se achava o ermitão que tinha vindo do monte por uma revelação dar um aviso a Roberto que Deus lhe dava o perdão. Foram onde estava Roberto o encontraram deitado o rei vigiou-lhe a perna que a lança tinha furado a ferida estava aberta inda não tinha sarado. Aí descobriu-se tudo lhe disse o ermitão: Roberto, estás perdoado e tive a revelação Deus mandou eu vir aqui para te dar o perdão. Roberto disse chorando: Oh! bom Deus de piedade salvastes a um ente imundo autor da perversidade por tão pequeno trabalho nas obras da caridade. — De todo gênero humano fui eu o ente mais ruim considerei-me perdido para século sem fim sigo os vossos mandamentos pra que vos lembreis de mim A muda ficou contente vendo o que o louco dizia porque as suas façanhas um grande amor lhe cendia se não casasse com ele também outro não queria. O rei vendo aquela cena ficou muito horrorizado de ver a muda falar contando o que foi passado e ver um doido varrido no seu primitivo estado. O imperador lhe disse cheio de fraternidade: Roberto, serás um príncipe da alta sociedade casarás com minha filha com a maior brevidade. Aí ficou todo povo cheio de contentamento quando foi no outro dia a tudo deram andamento só faltava uma semana pro dia do casamento. Quando findou esse prazo então Roberto casou nos países da Europa onde a notícia chegou foi a festa mais galante que o mundo realizou. Ficou Roberto em Roma feito império da nação era muito generoso amava a religião governou com paciência pela constituição. Viveu Roberto casado no seio da confiança tiveram um filho único que ficou como lembrança foi Ricarte da Normândia dos doze pares de França.
Fontes[]
https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/items/show/97
https://pacobello.com.br/produtos/detalhe-produto/?p=21655350
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