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A Síndrome do Capitão Barbosa é uma expressão criada pelo escritor Bráulio Tavares para refletir sobre a dificuldade de aceitação de elementos tipicamente brasileiros na ficção científica . Em um contexto onde o público e autores brasileiros evitavam inserir personagens ou cenários com identidade nacional, Tavares usou o exemplo de um personagem chamado Capitão Barbosa para ilustrar o desconforto causado por nomes ou comportamentos excessivamente realistas em histórias de ficção científica. O problema, segundo ele, é que personagens com nomes como Barbosa ou Ferreira evocam o cotidiano e podem romper a atmosfera estilizada e abstrata esperada dentro do gênero, ao contrário de nomes estrangeiros como McCoy ou Ivanov, que são mais facilmente associados a um universo ficcional distante.

Tavares, em seu ensaio publicado na Isaac Asimov Magazine nº 6 (Editora Record, 1990), expôs essa ideia de forma crítica, sugerindo que a ficção científica brasileira sofria de um tipo de colonialismo cultural, onde os escritores tentavam imitar modelos estrangeiros, em vez de criar algo autêntico. Ele destacava que, para que a ficção científica brasileira fosse realmente relevante, seria necessário que os autores integrassem a cultura brasileira sem medo de romper o encanto com a realidade cotidiana. Tavares, então, levanta a questão: é possível criar uma ficção científica tipicamente brasileira sem cair em clichês ou em imitações rasas de ficção científica estrangeira?

Essa crítica remete à ideia de antropofagia cultural, um conceito do movimento modernista brasileiro, especialmente defendido por Oswald de Andrade. A antropofagia cultural propõe que o Brasil deve "devorar" influências externas, como a cultura europeia e norte-americana, mas não para imitá-las; ao contrário, o país deve absorver essas influências e ressignificá-las de acordo com a sua realidade. Tavares, então, sugere que a ficção científica brasileira deveria fazer o mesmo, ao não rejeitar suas raízes culturais, mas ao transformá-las para criar uma literatura que fosse ao mesmo tempo inovadora e fiel à identidade brasileira.

Uso do personagem[]

A antologia Space Opera – Odisseias Fantásticas Além da Fronteira Final (2011), de Flávio Medeiros Jr., oferece um exemplo de como essa abordagem pode ser eficaz. A noveleta de Medeiros, vencedora do Prêmio Argos 2012, subverte a Síndrome do Capitão Barbosa ao colocar um Capitão Barbosa no comando da espaçonave brasileira Estrada Real, em uma missão para salvar a Terra de uma ameaça cósmica. Ao fazer isso, a história desafia a ideia de que personagens brasileiros, com nomes e comportamentos autênticos, não seriam viáveis em um contexto de ficção científica. Medeiros, ao invés de criar uma história em que os brasileiros são apenas imitação de modelos estrangeiros, insere uma identidade cultural brasileira de maneira inovadora dentro do subgênero de space opera.

Essa noveleta mostra que, ao invés de romper com a suspensão de descrença, personagens como o Capitão Barbosa podem ser não apenas plausíveis, mas também enriquecedores dentro de um universo de ficção científica, refletindo um cenário mais genuíno e diversificado. Tavares, em seu ensaio, discutiu que um desafio maior para os escritores brasileiros seria justamente esse: criar uma ficção científica que fizesse jus à sua cultura, sem ser limitada pela imitação dos modelos estrangeiros. A história de Medeiros demonstra que é possível superar essa síndrome, criando uma narrativa autêntica e relevante, que honra tanto o gênero quanto a identidade brasileira.

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